23/08/2007

Raul Seixas

Ontem, dia 21 de agosto, foi o dia da Saudade. Num dia 21 de agosto, Raul morreu. Celebramos essa data homenageando o maluco com uma passeata pelas ruas de Sampa, cantando suas canções e celebrando sua memória.
Postarei aqui uma homenagem. Raul foi o cara que mais influenciou minha juventude.
Viva Raul Seixas!!!

Magia de Amor
(Raul Seixas)

Me fascina tua morte mal morrida
E tua luta prá ficar em tal estado
E teu beijo, tão fatal, nunca me assusta
Pois existe um fim pelo sangue derramado

Me fascinam os teus olhos quando brilham
Pouco antes de escolher quem te seduz
E me fascinam os teus medos absurdos
A estaca, o alho, o fogo, o sol, a cruz

Me fascina a tua força, muito embora
Não consiga resistir à frágil aurora
E tua capa, de uma escuridão sem mácula

Me fascinam os teus dentes assustadores
E teus séculos de lendas e de horrores
E a nobreza do teu nome, Conde Drácula

17/08/2007

Auto-aviso

Não deixe que ela (sim, aquela que representa seu passado, a dor no peito, a forca no pescoço e o nó na garganta) estragar teus dias imediatamente vindouros.

Não deixer que ela estrague teu minuto seguinte.

Ela não vale isso.

Ela não vale nada.

Não deixe que ela te vença. Não deixe que ela faça com que você se sinta um maldito cruel. Você não é. Você não é. Você não é.

Não deixe que seu pensamento caia nela. Ela não merece sequer isso.

Ela te fudeu. Ela se fudeu. Ela que continue se fudendo.

Você, que continue lutando contra tua depressão. Sem se sentir vítima de nada, nem culpado por nada. AS COISAS SÃO. O QUE FICOU PARA TRAS ESTÁ ESCRITO! É HORA DE ESCREVER PARA FRENTE e nas páginas seguintes, ela não será citada.

Ela que fique no passado que é o lugar dela, amarelando como a foto no armário.

TODO CONTATO COM ELA É PERIGOSO.

Ela quer afastar você do que você mais ama.

Ela não vai conseguir, pois você não lhe dará espaço.

Ela foi um vício. Hoje é apenas incômodo.

Ok?

07/08/2007

Como estou agora...

A música do Chico, copiada abaixo, fala do momento que estou vivendo agora.
São estes conselhos que quero seguir para me (re)encontrar e (re)conquistar meus objetivos, ainda que, por enquanto eu não saiba ao certo qual(quais) é(são).
Está difícil, mas EU VOU CONSEGUIR SER O QUE SEMPRE FUI!!!!!!!
;-)

Espero que frases como "Está provado, quem espera NUNCA alcança" soem às almas de vocês, como soa à minha.

P.S.: Três posts seguidos com músicas do Chico... Talvez eu esteja um tanto Chicólatra, mas afinal...

BOM CONSELHO

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado ou você se cansa
Está provado que quem espera nunca alcança.

Venha meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com o seu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes
Antes de pensar
Vou atrás de tudo
Vindo não sei de onde
Devagar é que não se vai longe.

Eu ouço bem o vento
Na minha cidade
Vou para a rua
E bebo a tempestade

Vou para a rua
E bebo a tempestade

Para Marlene e Vágner

Essa música, o Chico Buarque fez para a Zuzú Angel, quando ela perdeu o filho assassinado pela ditadura.
Tenho uma cunhada que perdeu um filho com leucemia há uns 10 anos e nunca mais se recuperou. Sua vida perdeu o sentido e ela espera tristemente a própria morte. É talvez, a pesoa mais triste que eu conheço.
Ela nunca lerá esse blog e nem saberá que ao escutar essa música do Chico Buarque lembrei dela e lamentei pela morte de meu sobrinho e de minha cunhada, sabendo que a morte dela é pior, pois é uma morte em vida.

Pedaço de mim
Chico Buarque/1977-1978

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

O QUE SERÁ? (À FLOR DA TERRA)

O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados, que com certeza
Está na natureza, será que será
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho

O que será que será
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia-a-dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido

O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E o mesmo Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo

03/08/2007

entenderá se for você...

Meu bem, meu bem
será que você não vê,
não houve nada?
Só o passado rondando minha porta
feito alma penada...

hahahahahahahahahaha

Trecho do livro O lobo da Estepe sobre Depressão e depressivos

(...)


Outra era a de que pertencia ao grupo dos suicidas. E aqui é necessário esclarecer que não se devem considerar suicidas somente aqueles que se matam. Entre estes há suicidas que só o chegaram a ser por mero acaso, e de cuja essência do suicídio não fazem realmente parte. Entre os homens sem personalidade, sem características definidas, sem destino traçado, entre os homens incapazes e amorfos, há muitos que perecem pelo suicídio, sem por isso pertencerem ao tipo dos suicidas, ao passo que há muitos que devem ser considerados suicidas pela própria natureza de seu ser, os quais, talvez a maioria, nunca atentaram efetivamente contra a própria vida. O "suicida" - e Harry era um deles - não precisa necessariamente viver em relações particularmente intensas com a morte; isto se pode fazer sem que se seja um suicida. É próprio do suicida sentir seu eu, certo ou errado, como um germe da natureza, particularmente perigoso, problemático e daninho, que se encontrava sempre extraordinariamente exposto ao perigo, como se estivesse sobre o pico agudíssimo de um penedo onde um pequeno toque exterior ou a mais leve vacilação interna seriam suficientes para arrojá-lo no abismo. Esta classe de homens se caracteriza na trajetória de seu destino porque para eles o suicídio é a forma de morte mais verossímil, pelo menos segundo sua própria opinião. A existência dessa opinião, que quase sempre é perceptível já na primeira mocidade e acompanha esses homens durante toda sua vida, não representa, talvez, uma particular e débil força vital, mas, ao contrário, encontram-se entre os suicidas naturezas extraordinariamente tenazes, ambiciosas e até ousadas. Mas assim como há naturezas que caem em febre diante da mais ligeira indisposição, assim propendem essas naturezas a que chamamos "suicidas" e que sempre são muito mais delicadas e sensíveis à menor comoção, a entregar-se intensamente à coragem a autoridade suficientes para ocupar-se do homem, em vez de fazê-lo simplesmente no mecanismo dos fenômenos vitais, se tivéssemos uma verdadeira Antropologia, uma verdadeira Psicologia, tais fatos seriam conhecidos de todos.

O que foi dito acima a propósito dos suicidas só diz respeito obviamente à superfície; é psicologia, portanto uma parte da física. Do ponto de vista metafísico, o assunto aparece de outra forma e muito mais claro, pois, vistos assim, os "suicidas" se nos apresentam como perturbados pelo sentimento de culpa inerente aos indivíduos, essas almas que encontram o sentido de sua vida não no aperfeiçoamento e moldagem do ser, mas na dissolução, na volta à mãe, a Deus, ao Todo. Muitas dessas naturezas são inteiramente incapazes de cometer suicídio real, porque têm uma profunda consciência do pecado que isso representa. Para nós, entretanto, são, apesar disso, suicidas, pois vêem a redenção na morte e não na vida; estão dispostos a eliminar-se e a entregar-se, a extinguir-se e a voltar ao princípio.

Assim como toda força pode converter-se em fraqueza (e em certas circunstâncias deve fazê-lo, necessariamente), assim, ao contrário, o suicida típico pode fazer de sua aparente debilidade uma força e um escudo, o que acontece aliás com certa freqüência. A estes pertenciam também Harry, o Lobo da Estepe. Como milhares de seus semelhantes, fazia da idéia de que o caminho da morte estava pronto para ele a qualquer momento, não uma quimera juvenil e melancólica, mas antes encontrava nesse pensamento um apoio e um consolo. É verdade que nele, como em todos os homens de sua espécie, cada comoção, cada dor, cada desesperada situação da vida, despertava imediatamente desejo de livrar-se de tudo por meio da morte. Mas, pouco a pouco, foi transformando em seu interior essa tendência numa filosofia que era, na verdade, propensa à vida. A profunda convicção de que aquela saída de emergência estava constantemente aberta lhe dava forças, fazia-o sentira curiosidade de provar seu sentimento até às últimas instâncias. E quando se via na miséria, podia às vezes sentir com furiosa alegria uma espécie de prazer em sofrer: "Estou curioso por saber até que ponto um homem pode resistir. E quando alcançar o limite do suportável, basta abrir a porta e escapar." Há muitos suicidas que extraem força extraordinária deste pensamento.

Por outra parte, a todos os suicidas é familiar a luta contra a tentação do suicídio. Cada um deles sabe muito bem, em algum canto de sua alma, que o suicídio, embora seja uma fuga, é uma fuga mesquinha e ilegítima, e que é mais nobre e belo deixar-se abater pela vida do que por sua própria mão. Tendo consciência disso, a mórbida consciência que é praticamente a mesma daqueles satisfeitos consigo mesmos, os suicidas em sua maioria são impelidos a uma luta prolongada contra o próprio vício. O Lobo da Estepe era bastante afeito a esse tipo de luta; nela já havia combatido com várias armas. Finalmente, aos quarenta e seis anos de idade, deu com uma idéia feliz, mas não inofensiva, que lhe causava, não raro, algum deleite. Fixou a data de seu qüinquagésimo aniversário como o dia no qual se permitiria o suicídio. Nesse dia, convencionara consigo mesmo, podia usar a saída de emergência, segundo a disposição que demonstrasse. Então poderia ocorrer-lhe o que fosse, enfermidades, miséria, sofrimentos e amarguras, que tudo teria um limite, nada poderia estender-se além daqueles poucos anos, meses e dias, cujo número era cada vez menor. E na realidade suportava agora com mais facilidade males que antes o teriam atormentado profundamente, males que o teriam comovido até as raízes. Quando por qualquer motivo as coisas iam particularmente más, quando novas dores e perdas se vinham juntar à desolação, ao isolamento e ao desespero de sua vida, podia dizer aos seus algozes: "Esperai mais dois anos e eu vos dominarei." E logo se punha a imaginar o dia de seu qüinquagésimo aniversário, quando, logo pela manhã, começariam a chegar as cartas de felicitações, enquanto ele, tomando da navalha, despedir-se-ia das dores e fecharia a porta atrás de si. Então a gota das juntas, a depressão do espírito e todas as dores de cabeça e do estômago poderiam procurar outra vítima.


Herman Hesse