Como pode um cérebro entrar em pane de forma a querer destruir o corpo em que habita?
Que dor aguda faz com que o medo da dor seja maior que o medo morte?
Que frio congela os pensamentos e enrijece a esperança?
Que escuro profundo tenta apagar a chama da vida?
Suicídio.
O corpo que se penduraria em uma corda balançando estará com certeza mais confortável em uma rede, assim como os pulsos cortados seriam melhor aproveitados apoiando as mãos que digitam a poesia.
Há tanta vida e tanta estrada...
Há rostos que riem, há flores que nascem, há ondas que chegam à praia... Como ausentar-se da chance de participar do espetáculo?
Lutar contra a vida não é natural ou mesmo coerente. Não há lógica na vida, mas há lógica em cortar os pulsos?
É preciso abrigo para se proteger da chuva, é preciso ajuda para sobreviver à depressão. Mas para achar abrigo e ajuda, é preciso humildade, coragem e bom senso para aceitar a mão que se estende em auxílio, a porta que se abre em acolhida.
Foi-se o tempo em que a cura para a depressão era o suicídio. Foi-se o tempo em que o suicídio era a única saída. Foi-se o tempo em que a única cor era cinza.
Deixemos o sol entrar pela retina dos olhos iluminando nossas sombras interiores, deixemos que a fé seja antes de tudo em nossa melhora, deixemos que o corpo lute para se curar e continuar a jornada.
Nunca nos foi dito que seria fácil - aliás nada no mundo é fácil. Borboletas passam boa parte da vida rastejando antes de voar sobre flores, baleias atravessam mares para procriar, por que conosco seria diferente? Encontremos forças nas adversidades e levantemos a cabeça. Olhos são projetores do espírito, não faz sentido se eles estiverem voltados para o chão. Levantemos nosso olhar e nossa fé.
É muito bom viver.
E por enquanto, não há mais nada a ser dito.
Dez/06