30/12/2007

Conto de reveillón

Se detestava cada vez que pensava nela.
Se detestava cada vez que imaginava o cheiro do corpo dela, o gosto da carne dela, a bunda dela na mão dele.
Tinha se detestado muito nos últimos dias...
Tinha enlouquecido de desejo e desilusão no útlimo encontro, tinha esquecido de como era ruim aquela sensação no peito, corroendo o amor-próprio, corroendo o próprio encanto.
Afinal, o que era ela em sua vida? Ou o que era sua vida sem ela?
Sabia que ela conhecera outras camas em outros sonhos. Sabia que ele era, dela, o pesadelo. Sabia que ela era, dele, a insônia.
E ele caminhava sozinho pela Rua Augusta. E ele tinha devaneios e mal via as mesas dos bares, espalhadas pelas calçadas sujas. E ele era um louco urbano pensando nela nela nela nela nela.
Foi perto do Vitrine, que viu a Outra. Talvez um pouco menor, talvez um pouco mais magra. Não tão bela. Mas servia. 100 pratas. 100 pratas. Sem perguntas. Sem romance.
No Hotel Savoy, ele torceu para que Ela encorporasse na Outra. Para que a Outra gemesse como Ela, para que Ela não fosse outra. Claro que não deu certo.
Ele se detestou e continuou animalesco, afinal, se não era Ela, a Outra lhe garantiria ao menos o gozo...
A noite de Ano Novo não livrou-lhe, afinal do velho fantasma: O velho maldito amor.



EDNALDO TORRES FELÍCIO
São Paulo, próximo à noite de reveillón

26/12/2007

WISKEY BAR... THE DOORS - Post Etílico pré reveilón



TRADUÇÃO DA MÚSICA

WHISKEY BAR/CANÇÃO DE ALABAMA


Então, me mostre o caminho
Para o mais próximo whiskey bar
Oh, não pergunte por que
Oh, não pergunte por que

Se nós não encontrarmos o caminho
Para o próximo whiskey bar
Eu acho que vamos morrer
Eu acho que vamos morrer
Eu acho, eu acho
Eu acho que vamos morrer

Oh, lua de Alabama
E hora de dizer adeus
Nós perdemos nossa boa e velha mãe
E precisamos de whiskey, oh, você sabe por que

Então, me mostre o caminho
Para a próxima garota
Oh, não pergunte por que
Oh, não pergunte por que

Se nós não encontrarmos o caminho
Para a próxima garota
Eu acho que vamos morrer
Eu acho que vamos morrer
Eu acho, eu acho
Eu acho que vamos morrer

Oh, lua de Alabama
E hora de dizer adeus
Nós perdemos nossa boa e velha mãe
E precisamos de whiskey, oh, você sabe por que

25/12/2007

POST DE NATAL

Numa manhã de Natal, nada como o genial Bukowski

CONVERSA ÀS TRES E MEIA DA MADRUGADA

às três e meia da madrugada
a porta se abre
e há passos na entrada
que trazem um corpo,
e uma batida
e você repousa a cerveja
e vai ver quem é.

com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?

e ela entra
com o cabelo nos rolinhos
e num robe de seda
estampado de coelho e passarinho

e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta
2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela,
e ela tem procurado emprego
nos últimos 32 dias.

você diz a ela
que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e canções românticas,
e depois de uns dois copos
ela não se preocupa com cobrir
as pernas
com a beira do robe
que está sempre caindo.

não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas,
e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolinhos,

e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos
porque ela tem me visto na entrada.

e finalmente
há muito pouca coisa
para dizer.

22/12/2007

DESABAFO

Estou cansado (verdadeiramente cansado) de entender razões alheias sem que ninguém entenda as minhas.

12/12/2007

MANO CHAO




Mi vida, lucerito sin vela,
mi sangre de la herida,
no me hagas sufrir más.
Mi vida, bala perdida
por la gran vía, charquito de arrabal.
no quiero que te vayas,
no quiero que te alejes cada día más y más.
Mi vida, lucerito sin vela (aquí no pegamos los ojos)
mi vida, charquito d'agua turbia,
burbuja de jabón,
mi último refugio, mi última ilusión,
no quiero que te vayas cada día más y más.
Mi vida, lucerito sin vela,
mi sangre de la herida,
no me hagas sufrir más.
(aquí no pegamos los ojos, aquí no pegamos los ojos)
Mi vida

08/12/2007

MURILO MENDES

Pré-história

Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.

03/12/2007

Aqui tem um bando de louco...

"Sim, foi que nem um temporal
Foi um vaso de cristal
Que partiu dentro de mim"
Chico Buarque e Francis Hime


Meu time caiu para a Segunda Divisão. Um tanto de dor e um tanto de amor nesse drink amargo de domingo.
Meu time caiu para a Segunda Divisão. Não chorei, a dor calou minhas lágrimas e o silêncio encheu a sala de casa, uma da milhares de casas quietas no fim de tarde deste 02/12/07.
Meu time caiu para a Segunda Divisão. Queda esperada. Time ruim. Clube por tempos acéfalo. Meninos que corriam assustados.
Meu time caiu... mas me orgulho de ser Corinthiano.
Cantamos, sonhamos, rezamos. Perdemos. Mas a Elis não dizia há décadas que "nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar"?
Tenho orgulho de ser Corinthiano. Nunca desistir de acreditar, de sonhar, de sorrir. Tenho orgulho de ser parte de um time do povo. Nem playboys nem mauricinhos, somos gente do Povo. Da periferia. Ou como cantam pejorativamente os adversários: da Favela (como se isso fosse demérito!).
Somos aquele tipo de gente que aguentou as gozações no trabalho, enquanto abria a marmita no almoço, ou na fila do ônibus - interminável fila - enquanto o ônibus demorava para chegar lotado, cuspindo gente pelas bordas. Somos aqueles que com o coração dilacerado de dor e tristeza, humilhado por gozações, tivemos forças para abrir um sorriso e dizer com fé em São Jorge: "ano que vem melhora".
"Ano que vem melhora..." E não é isso que espera o brasileiro ano a ano, crise à crise, disfarçando o nó na garganta, disfarçando o salário mirrado para comprar brinquedo para o filho, disfarçando a dor de todo um ano para três dias e meio de um Carnaval que sempre acaba em Cinzas?
Nas arquibancadas, o Corinthiano cantava para sí mesmo, pois ele É o time. O time de "maloqueiro e sofredor" que sofre, chora e sonha. Mas tem orgulho de suas raízes e da matéria bruta com que ele é feito: suor, esforço, garra.
Num canto, a torcida pede: "vamos, vamos meu Timão, não pára de lutar", pois ela (Torcida) nunca parará sua luta na fábrica, na periferia, na lotação, na agência de emprego, no cotidiano, na vida,
na Série B da vida.
"Aqui tem um bando de loucos, loucos por ti Corinthians..."

EDNALDO TORRES FELÍCIO
03/12/2007

02/12/2007

Salve Jorge




Oração a São Jorge

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

São Jorge Rogai por Nós.


Meu São Jorge, ajudai o Timão...