25/12/2009

HISTÓRIA DE NATAL 1 ou o dia em que virei anjo


Carapicuíba. Periferia de São Paulo. Noite de Natal. Eu, sozinho, caminhando pelos escombros da cidade escura.
Barulho de fogos lá loooooonge e eu andando cabisbaixo, desviando dos ratos de minha alma, sem motivos para celebrar.
Foi quando vi deitado na calçada um homem com a cabeça sangrando. Mendigo. Sujo. Provavelmente bêbado, o farrapo de gente só era notado porque incomodava o andar dos que corriam apressados para a ceia e para a celebração do Deus Vivo,o Papai Noel.
Se todos desviavam do farrapo, por que diabos eu não desviaria? Mas não desviei.
Olhei o ser-humano caído, cabelos embasbacados de sangue, sozinho, tão sozinho quanto eu, mas um tanto mais jogado que eu. Foi quando um rapaz completamente embriagado vindo sei lá de onde, virou-se pra mim e disse: "cara, vamos leva-lo ao pronto-socorro?"
E assim fizemos, arrastamos o mendigo até o pronto-socorro. Colocamos ele numa maca. E entre perguntas de "onde vocês o encontraram?" "O que vocês são dele?", saímos à francesa certos de que o farrapo seria menos farrapo e mais gente nas mãos de enfermeiros, médicos e o diabo a quatro do pronto-socorro.
Já na rua, meu amigo de ocasião, o rapaz bêbado que me ajudou a levar o mendigo ao pronto-socorro, disse: "Cara, as pessoas passavam por cima do mendigo, pisavam em seu sangue e não paravam. Nós paramos e o socorremos. Cara, pra esse mendigo nós somos anjos." E se despediu na próxima esquina com um "Feliz Natal".
Eu fui pra minha adormecida casa, abri minha lata de cerveja no escuro e me senti sim, um anjo de Natal, um anjo de ocasião. Um anjo, torto, ateu, sozinho, mas um anjo. Ainda que apenas para aquele mendigo.
Recolhendo as asas nas costas, iniciei meu porre solitário de Natal.


EDNALDO TORRES FELÍCIO
25/12/2009

20/12/2009

reflexão de Natal

Não é uma pena?
Não é de se envergonhar
como despedaçamos nossos corações
e causamos dor um ao outro?
Como pegamos nosso amor
sem pensar em nenhum momento
e nos esquecemos de devolvê-lo,
Isso não é uma pena?

Algumas coisas demoram tanto,
mas como posso explicar isso?
Quando nem todo mundo
pode ver que somos todos iguais.
E por causa de suas lágrimas,
seus olhos não podem enxergar
a beleza que os cerca.
Isso não é uma pena?

Não é uma pena?
Não é de se envergonhar
como despedaçamos nossos corações
e causamos dor um ao outro?
E por causa de suas lágrimas,
seus olhos não podem enxergar
a beleza que os cerca.
Isso não é uma pena?

Esquecendo-se de devolvê-lo...
Isso não é uma pena?
Esquecendo-se de devolvê-lo...
Isso não é uma pena?

Que pena,
Que pena...
Que pena...







07/12/2009

Você vai me apunhalar

Você vai conseguir enfim me apunhalar, você vai me velar, chorar, vai me cobrir e me ninar...




Você vai me Seguir
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Você vai me seguir aonde quer que eu vá
Você vai me servir, você vai se curvar
Você vai resistir, mas vai se acostumar
Você vai me agredir, você vai me adorar
Você vai me sorrir, você vai se enfeitar
E vem me seduzir
Me possuir, me infernizar
Você vai me trair, você vem me beijar
Você vai me cegar e eu vou consentir
Você vai conseguir enfim me apunhalar
Você vai me velar, chorar, vai me cobrir
e me ninar

26/11/2009

MUPPETS CANTANDO BOHEMIAN RHAPSODY

Galera, é espetacularmente genial o vídeo abaixo.

Essa é para os fãs de Queen e dos Muppets.

São os Muppets recriando o clássico vídeo de Bohemian Rapsody. Hilário!

No vídeo, os personagens da série só deixaram de fora o trecho da letra de Freddie Mercury que diz "Mamãe, acabei de matar um homem / Encostei a arma em sua cabeça / Puxei o gatilho, agora ele está morto", versos impróprios para o público infantil. A solução "encontrada" pelo irascível muppet Animal é engenhosa - além de hilariante!




Veja agora o vídeoclip original



E aí, curtiu?

20/11/2009

O MEDO e o Homem


O Medo andava de lado
olhava de soslaio
falava baixo
e se esgueirava pelas sombras;

O Medo caminhava elíptico
curvando sobre os pés
que se arrastavam
pesados;

O Homem, por sua vez,
titubeava no espaço
pálido, arredio, indeciso,
O Homem não tinha mira, nem seta.

Na rua morta,
O Homem encontrou o Medo e se encolheu.
O Medo sugou o Homem
à partir de suas mãos

O Homem deixou-se engolir:
pernas, braços, tórax
sonhos, amplidão e alma.

Até que não havia nem Homem nem Medo

Havia apenas o escuro
numa lacuna triste
daquilo que poderia ter sido, mas nunca foi.

Homem e Medo são hoje amálgama.


EDNALDO TORRES FELÍCIO

18/10/2009

ISSO NÃO É UMA METÁFORA

Dentro dela tem outra vida
E isso não é uma metáfora.

Dentro dela tem um pouco de mim
que está se desenvolvendo
E isso não é uma metáfora.

Ela agora são dois
E isso não é uma metáfora.

Estou completamente bobo
com ela e com o que está dentro dela.

E ISSO NÃO É UMA METÁFORA!


EDNALDO TORRES FELÍCIO

16/10/2009

PECADO
















Há pecados que escondemos
debaixo dos escombros e da destruição
No escuro os encontramos
e deliciamos sua tentação

Pecados guardados quietos
por medo grande da inquisição
que é nossa consciência sem afeto
anjo torto sem perdão

São erros repetidos sem verso,
sem prosa, sem alma, sem emoção
São defeitos de um projeto
que não nos deixa ser a perfeição

Tolos, dormimos entre o sonho
entre a alma e a perdição
quais poetas de botecos
entre letras soltas e solidão.

Pecados sob a lua
sob a pele
sob alma.
Nu(m) alçapão

Pecados desalmados
nos fazendo mais cão
menos gente, menos luz
mais bicho, menos razão

Pecados que se repetem
e nos repelem da amplidão

Mas gostamos tanto de pecar...
E noite após noite
nos encontramos com eles
agradecendo a Lúcifer pela tentação.

Nossa alma já perdida
sem rumo ou direção
saciada de pecado
se afasta da salvação

Somos filhos do Pecado
deliciados de imperfeição
Predadores de nós mesmos
demônios a esmo na escuridão

Noite a noite se escuta
a voz do pecado na multidão
Sereia que canta nua
Convidando os tolos à maldição.

Há pecados que escondemos
debaixo dos escombros e da destruição
Há pecados proibidos que queremos
repeti-los à exaustão.

Pecados...


EDNALDO TORRES FELICIO
pecador?

06/10/2009

AO MEU PAI (84 ANOS)




Menino Guerreiro:
GONZAGUINHA

Um homem também chora
Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas...

Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
Da própria candura...

Guerreiros são pessoas
Tão fortes, tão frágeis
Guerreiros são meninos
No fundo do peito...

Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sono
Que os tornem refeitos...

É triste ver meu homem
Guerreiro menino
Com a barra do seu tempo
Por sobre seus ombros...

Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que tem no peito
Pois ama e ama...

Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho...

E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...

Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz...

É triste ver meu homem
Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros...

Eu vejo que ele sangra
Eu vejo que ele berra
A dor que tem no peito
Pois ama e ama...

Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho...

E sem o seu trabalho
O homem não tem honra
E sem a sua honra
Se morre, se mata...

Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz...

Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz
Não dá prá ser feliz...

05/10/2009

texto do blog do Rodrigo Viana

Vira-latas tentam atrapalhar a festa do Rio-2016


O complexo de vira-lata segue fortíssimo em nosso país. Se bem que, agora, parece mais restrito a setores da classe média...

Falo das estranhas reações a esse acontecimento maravilhoso: a vitória do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.

Estava eu fora do alcance da internet - gravando uma reportagem nas proximidades de Iguape, no litoral sul de São Paulo - quando o Rio foi anunciado vencedor. Comemorei, em mensagens enviadas por celular à minha mulher - que é carioca.

Quando cheguei a São Paulo, na noite desta sexta, também comemorei com meu filho Vicente, outro nascido no Rio de Janeiro.

Em qualquer lugar do planeta seria mesmo motivo para comemorar. Mas, no Brasil, aparecem nessas horas os corvos agourentos: e a a corrupção? e as favelas? e a violência?

Mas que diabos! Parece-me tão óbvio que Olimpíadas não são (nem nunca serão) o remédio para nossos problemas seculares, parece-me isso tão óbvio (repito!) que sinto até vergonha de precisar argumentar diante de certas coisas que comecei a ouvir e a ler, assim que botei os pés de novo em São Paulo, nesta histórica sexta-feira.

Aos poucos, fui-me lembrando das diferenças entre Rio e São Paulo. Paulistano que sou, posso dizer sem medo de errar: parte das pessoas que vivem aqui na minha terra não gosta muito do Brasil. A verdade é essa.

Era esse o tom dos comentários que ouvi no rádio do carro, a caminho de casa. O locutor ia lendo os e-mails dos ouvintes, que criticavam a escolha do Rio: eram comentários mal-humorados, ranhetas, complexados.

No futebol, o brasileiro superou esse complexo de vira-lata. Nelson Rodrigues foi quem cunhou a expressão. Foi ele também quem mostrou como Pelé, com sua pose de rei, indicava a seus colegas em campo: somos fortes, somos bons, falta só acreditar em nós mesmos.

Lá pelas décadas de 50/60, com Pelé, superamos o complexo. Mas só no futebol. A síndrome do vira-lata infeliz continuou a nos abater em outras áreas..

Os mais pobres, em anos recentes, parecem ter vencido o complexo. Até porque não têm muita escolha. São brasileiros até o último fio de cabelo. Para o bem e para o mal. Melhor brigar e trabalhar pra fazer dese país uma terra um pouco melhor.

A vitória e a reeleição de Lula são a prova de que parte dos brasileiros, especialmente os de origem mais humilde, superou o complexo. É uma parcela de brasileiros que foi capaz de eleger um homem monoglota, sem estudo, e além de tudo sem um dedo (ah, como essa marca do trabalho braçal incomoda nossas elites) para liderar o país.

Em contrapartida, a escolha - por duas vezes - de um presidente com esse perfil parece ter acirrado ainda mais o complexo de vira-lata, entre certos setores de nossa classe média. É uma parte dos brasileiros (e como são numerosos em São Paulo) que não gostam de ser brasileiros. Gostam de ser netos de italianos, bisnetos de alemães, trinetos de poloneses, tataranetos de espanhóis.

Eles se envergonham do Lula que discursa em "português" na cerimônia do comitê olímpico (ouvi um sujeito falando disso hoje na rua). Queriam que discursasse em javanês?

Eles se envergonham do Lula que chora. Preferiam, talvez, o tom afetado daquele outro presidente, que adorava fazer piadas sem graça, e preferia discursar em francês ou inglês (tremendo complexo de vira-lata) para agradar os gringos...

Com Lula, o Brasil deixou de se ver como colônia.

Os problemas do Brasil - com ou sem Olimpíadas - são enormes. Cabe a nós resolvê-los. Podemos tentar fazer as duas coisas ao mesmo tempo: cuidar de nossos problemas, e organizar as Olimpíadas. Isso parece uma obviedade sem tamanho!

Ou alguém acha - por exemplo - que um sujeito, só porque ainda está pagando as prestações da casa, não pode fazer uma bela festa de fim-de-ano para os vizinhos e os amigos?

A escolha do Rio é reconhecimento da grandeza do Brasil. Não deve nos fazer ufanistas. Mas a verdade é que merecemos comemorar. Sem dar bola para os corvos agourentos. Eles que curem seus complexos viajando para Miami nas férias. E deixem o Brasil trabalhar para fazer uma bela Olimpíada em 2016.

Parabéns ao Rio. Viva o Brasil.

03/10/2009

A elite está se roendo. A elite odeia o Brasil

A elite está se roendo. A elite odeia o Brasil

Lula tem sorte. "Rabo", é o que eles dizem.

O pré-sal foi rabo. A Copa foi rabo. As Olimpíadas? Rabo.

O Brasil? Um horror. É corrupto. Imagine só o que "eles" vão fazer com as verbas das Olimpíadas. Imaginem o que "eles" vão fazer com o dinheiro de nossos impostos.

Cá entre nós, quem é que gosta de esporte?

Quem é que vai se espremer em um estádio sem poder dizer no dia seguinte que teve algum tipo de privilégio?

Privilégio.

Essa é a palavra que define a elite brasileira.

O camarote da Brahma. O lounge exclusivo do aeroporto. A sala VIP.

A separação entre Casa Grande e Senzala é a matriz da brasilidade.

Para os amigos, tudo. Para os inimigos, toda a força da lei.

A cela especial dos diplomados. Os habeas corpus do banqueiro. Os negros que enriquecem e se tornam brancos.

Lula embaralhou bastante as cartas. É um sucesso de público.

Daí o estratagema da elite. Lula sim, o PT não. Lula sim, o Itamaraty é um horror -- dominado por chavistas. Lula é um democrata, Morales um demagogo.

É uma forma de negar o protagonismo histórico de Lula e, portanto, da classe na qual ele se originou.

É uma forma de dizer que Lula é inocente, tão vítima quanto todos nós de seus assessores "esquerdistas".

É a forma antropofágica de nossa elite de engolir Lula, ao mesmo tempo negando tudo o que ele de fato representa.

Por isso, o "rabo" de Lula. A sorte de Lula.

Lembrem-se, o pré-sal não foi resultado da sabedoria da Petrobras.

A Copa do Mundo não foi mérito do Brasil.

As Olimpíadas não foram mérito do Rio de Janeiro.

Não, foi tudo "sorte" do Lula.

Foi um acaso. Foi "rabo".

O BrasIl? É um horror. "Eles" são corruptos. "Eles" elegem gente corrupta. "Eles" não sabem gastar nosso dinheiro.

O Brasil são "eles", aqueles que não tem acesso ao nosso camarote, à nossa Casa Grande, à nossa sala VIP.

Se eles fossem como a gente, seríamos Paris. Ou Nova York.

Infelizmente, somos Brasil.

PS: É por isso que, hoje, quando o Rio ganhou, celebrei com os colegas de "firma". Depois, fomos todos trabalhar.


LUIZ CARLOS AZENHA

(retirado do blog VIOMUNDO http://www.viomundo.com.br/opiniao/a-elite-esta-se-roendo-a-elite-odeia-o-brasil/ )

23/09/2009

ART GALLERY

Quando eu era bem pequeno, adorava acordar cedinho, me arrastar até a frente da TV, me enrolar no sofá e ver desenhos como esse clássico aí embaixo:


18/09/2009

Uma lição de Corinthianismo


Uma lição de Corinthianismo

Com 65 anos de idade, 65 anos de CORINTHIANS e 60 anos de Pacaembú, eu pensava que já tinha visto todas as demonstrações de amor ao meu time. Mas não. Só entendi o que significa ‘Ser CORINTHIANO’ no primeiro jogo que disputamos pela Série B, no Pacaembú, em 2008. Estava com meus filhos e com meus netos no meio da torcida, no setor amarelo. Um senhor negro, idoso, passos curtos, semblante sofrido, pediu para ficar um pouco a meu lado e me contou: “Osmar, há dez dias tive o terceiro enfarte do miocárdio e já soube pelo médico que meu fim está próximo, provavelmente este ano. Moro no interior, longe. Pedi a um amigo que me trouxesse aqui, hoje. Eu vim me despedir do CORINTHIANS”. Me abraçou com olhos lacrimejantes e foi embora. Chorei também. Meus netos ficaram calados e tiveram uma lição de CORINTHIANISMO que eu jamais poderia lhes dar.
.
Relato de Dr. Osmar de Oliveira, retirado do livro FIEL 100 ANOS – de Lázaro Simões Neto (Lalau).

15/09/2009

dica de filme!

Nesse último fim de semana, assisti em 3D ao excelente filme "UP - ALTAS AVENTURAS" em 3D.

O filme tem uma levesa e uma delicadesa incomuns para filmes Disney. Me emocionou. Me fez lembrar meus pais, me fez pensar em minha esposa, me fez pensar em tantas coisas...

A voz do velhinho no filme é dublada pelo impagável Chico Anysio, que coloca emoção ímpar e faz com que a gente lembre de uma avô distante.

Excelente filme. Bonito, animado pra molecada, bacana pros adultos. RECOMENDO!


07/09/2009

PAIXÃO

O que nos move?
o que nos apaixona tanto?
nos faz sofrer, chorar, gritar
e ser - acima de tudo - feliz?

O que nos une?
O que nos humaniza?
O que nos faz diferentes dos demais?

Quatro palavras
99 anos
SPORT CLUBE CORINTHIANS PAULISTA

Só quem é, sabe do que digo...

22/08/2009

Homenagem para minha esposa e para filho que ela me dará




Como Un Pájaro Libre
Mercedes Sosa


Como un pájaro libre de libre vuelo,
Como un pájaro libre así te quiero.
9 meses te tuve creciendo dentro
Y aún sigues creciendo y descubriendo

Descubriendo, aprendiendo a ser un hombre
No hay nada de la vida que no te asombre
Como un pájaro libre ...
Cada minuto tuyo lo vivo y muero

Cuando no estás mi hijo como te espero
Pues el miedo, un gusano, me roe y come
Apenas abro un diario busco tu nombre
Como un pájaro libre ...

Muero todos los días, pero te digo
No hay que andar tras la vida como un mendigo
El mundo está en ti mismo, debes cambiarlo
Cada vez el camino es menos largo

Como un pájaro libre ...

21/08/2009

Raul Seixas

Faz 20 anos que Raul Seixas se foi. Se foi? hehehe Tem gente que acredita que ele se foi, mas ele pegou foi um disco voador chamado PLUNCT PLACT ZUM e foi conversar com seres de outros mundos...

Raul Seixas tem um papel muito importante em minha vida. Foi através da obra dele que eu comecei a acreditar em mim e vim pela adolescência plantando sonhos...

VIVA RAUL SEIXAS. ETERNO MALUCO.






Gospel
Raul Seixas
Composição: Raul Seixas
Por que que o sol nasceu de novo e não amanheceu?
Por que que tanta honestidade no espaço se perdeu?
Por que que o Cristo não desceu lá do céu e o veneno só tem gosto de mel?
Por que que a água não matou a sede de quem bebeu?
Por que que eu passo a vida inteira com medo de morrer?
Por que que os sonhos foram feitos pra gente não viver?
Por que que a sala fica sempre arrumada se ela passa o dia inteiro fechada?
Por que que eu tenho a caneta e não consigo escrever? (Escrever)
Por que que existem as canções que ninguém quer cantar?
Por que que sempre a solidão vem junto com o luar?
Por que que aquele que você quer também já tem sempre ao teu lado outro alguém?
Por que que eu gasto tempo sempre sempre a perguntar? (A perguntar)
Por que que eu passo a vida inteira com medo de morrer?
Por que que os sonhos foram feitos pra gente não viver?
Por que que a sala fica sempre arrumada se ela passa o dia inteiro fechada?
Por que que eu tenho a caneta e não consigo escrever? (Escrever)
Por que que existem as canções que ninguém quer cantar?
Por que que sempre a solidão vem junto com o luar?
Por que que aquele que você quer também já tem sempre ao teu lado outro alguém?
Por que que eu gasto tempo sempre sempre a perguntar? (A perguntar)

20/08/2009

mamãe de meu filho (que vem)




Pois só ela / me entende e me acode
Na queda ou na ascensão
Ela é a paz da minha guerra
Ela é meu estado de espírito
Ela é a minha proteção

07/08/2009

...e serei Pai outra vez!


Minha esposa está grávida. 8 semanas.

Tenho agora uma confusão de sentimentos que é estranha. é alegria, é medo, é euforia, é pânico...

Faz duas semanas que estou sabendo, mas ainda não tinha tido coragem de dividir com vcs. Calei meus dedos. Sensação de preocupação, de esperança... ainda não sei.

Ouvi o coração do bebê. Acho que senti o que a primeira pessoa que ouviu Mozart no mundo sentiu. Esse contato com o novo, com o belo, com o diferente.

Não sei se é menino ou menina. Sei apenas que é mágico. E como toda boa mágica, não tem uma explicação de pronto. Apenas é. Mágica.

E serão agora meses de espera. Mais que nunca entendo o significado de "esperar um bebê". Esperar, seu choro, seu riso, sua luz, esperar que ele tenha um pouco da mãe, um pouco do pai e seja tão diferente dos dois, tão melhor que os dois...

Esperar... Estamos esperando um bebê. Como quem dorme e espera um sonho, como quem sonha e espera o dia, como quem espera o dia e tem sono leve.

Gestar o novo, gestar o belo, gestar a vida que vem e precisa de cuidado, de carinho, de paz. Gestar a esperança e esperar o choro, o riso, o toque, a vida.

Esperar aquela mãozinha que segurará com cinco dedos pequetitos o polegar do pai.

Esperar pelos lábios famintos pelo leite da mãe. Esperar pelo corpinho de pele frágil e rósea, frágil e bela como deve ser a retina de Deus.

Esperar. Esperar o bebê. Não dar a luz a ele, mas dá-lo à luz...

Enquanto minha esposa e o bebê são dois em um só corpo, observo de longe e perto, grato, tão grato a Deus, ao Universo... à Vida! Por ela brotar dentro de meu lar...


madrugada de 7 de agosto de 2009, numa lan house qualquer

08/07/2009

xubela (pelo amanhecer de 08 de julho 2009)




Caçada
Chico Buarque

Composição: Chico Buarque

Não conheço seu nome ou paradeiro
Adivinho seu rastro e cheiro
Vou armado de dentes e coragem
Vou morder sua carne selvagem

Varo a noite sem cochilar, aflito
Amanheço imitando o seu grito
Me aproximo rondando a sua toca
E ao me ver você me provoca

Você canta a sua agonia louca
Água me borbulha na boca
Minha presa rugindo sua raça
Pernas se debatendo e o seu fervor

Hoje é o dia da graça,
hoje é o dia da caça e do caçador

Eu me espicho no espaço feito um gato
Pra pegar você, bicho do mato
Saciar a sua avidez mestiça
Que ao me ver se encolhe e me atiça

E num mesmo impulso me expulsa e abraça
Nossas peles grudando de suor

Hoje é o dia da graça,
hoje é o dia da caça e do caçador

De tocaia fico a espreitar a fera
Logo dou-lhe o bote certeiro
Já conheço seu dorso de gazela
Cavalo brabo montado em pelo

Dominante, não se desembaraça
Ofegante, é dona do seu senhor

Hoje é o dia da graça,
hoje é o dia da caça e do caçador

04/07/2009

Benjamin Jackson





No filme O Curioso Caso de Benjamin Button, a linha do tempo é invertida: o personagem nasce velho e vai remoçando até ficar criança no final. Charles Chaplin também se imaginou nessa situação e declarou: "Na minha próxima vida quero vivê-la de trás para frente".

E agora que o Michael Jackson evaporou, cabe a analogia. Desde cedo ele teve que pegar no batente com as responsabilidades enfadonhas dos adultos. Depois, mas sempre ao contrario, MJ se tornou adolescente - por sinal, foi quando despontou como um grande bailarino, um cantor afinadíssimo, um artista completo, inovador; um Chaplin.

O tempo continuou invertido, com Michael cada vez mais um infante: brigou com os irmãos, reclamou dos pais - fez todos os tipos de estripulias, bizarrices; incluindo a de agarrar o próprio membro, enquanto se requebrava, de maneira tão acintosa quanto inofensiva. Quase sempre revelando uma mente infantil, estranha a um corpo adulto. Tanto que obsessivamente interferiu nesse corpo que não combinava com ele.

Usou de uma irresponsabilidade própria das crianças e tratou de fazer tudo que imaginou que podia. E podia muito - tinha dinheiro, tinha poder. E o que fariam as crianças se tivessem isso também e nada ou ninguém que lhes impedisse?".

Mas sobretudo há a questão da criatividade.

As pessoas maduras dão bons (e inúteis) conselhos; e diz a literatura que alguns dão bons amantes. Só que no quesito criatividade ninguém supera as crianças. Um artista, quanto mais artista ele for, mais infantil ele é. A razão atrapalha a inspiração. O próprio Michael Jackson para dançar daquele jeito dizia que não podia pensar durante os passos. (Nos desenhos animados os personagens voam sem perceber. Porém, quando se dão conta que não se voa apenas com o desejo, sem asas, eles caem).

Charles Chaplin era um vagabundo, "o" vagabundo. Os alvos dele eram os policiais empedernidos, os donos de lojas, os vigias, os responsáveis pela normalidade e, de uma maneira geral, a aristocracia e o esnobismo dos adultos. Mas o vagabundo tinha amigos, em especial crianças e cachorros.

Às vezes, porém, criador e criatura se confundem. Na vida real, assim como MJ, Chaplin foi acusado de pedofilia.

Sim, há um mundo real. Esse mundo tem regras. É justamente o mundo que os artistas confrontam. Um mundo que condena os excessos dos artistas. O mesmo mundo que chora intensamente a perda deles.

Quando morre uma criança, morre parte da nossa criatividade, e da nossa ilusão.


José Pedro Goulart é cineasta e jornalista.

26/06/2009

Um gênio bizarro

Dizem que ele morreu porque comeu uma criancinha estragada...
Enfim... Meus "bailinhos" de quando eu tinha 8, 9, 10 anos eram embalados por sons dele. Todos os meus amigos tinham um LP de "Thriller" em casa. É difícil imaginar hj o que esse cara foi nos anos oitenta... Postarei aqui dois sons dele que curto muito. Um da época do Jackson 5 e outro que curto pacas "Bellie Jean". Não consegui colocar o clipe original de Bille Jean, mas coloco uma gravação de um show em NY em 2001. Ducarai.
Acho que ele nunca foi são da cachola. Era um gênio. Um gênio bizarro.



12/06/2009

ao som de Zé Ramalho

Fugiu para o bar
Qualquer lugar era melhor do que aquela familia
Gente com auréola na cabeça
Gente que não fuma, não bebe, não fode, não erra.
Gente que coloca máscaras de plástico na face
E exibe um sorriso cordial sobre a verdadeira careta de escárnio.
Gente que se pendura na porta do céu e esmola entrada no Éden.

Fugiu pro bar.
E lá estavam os derrotados da vida:
A puta louca, sorrindo desdentada,
O negro velho, solitário com seu trago de cachaça,
O bluesman bêbado e alterado,
O idiota tomando água pensando que era cerveja...
Tudo ao som de Zé Ramalho.

O Bar era o ponto de encontro dos tristes
E dos que se mostram sem máscara.
O Bar era o olho mágico da porta do purgatório.
De lá, podiam ser vistos os coxos sociais, os sujos, os esquecidos...
E por Deus! Eles pareciam mais honrados e lindos do que a família de auréola de vidro!

Entre um trago e outro percebeu, entretanto,
Que não fazia parte de nenhum dos dois mundos daquela noite:
Nem do umbral dos rejeitados, nem da núvem frágil dos pseudo-eleitos.
Não fazia parte de mundo algum.

Deu as costas a tudo
e continuou caminhando...
Sozinho.

EDNALDO TORRES FELICIO

10/06/2009

DR. SÓCRATES BRASILEIRO DA SILVA, meu ídolo


Da REVISTA BOEMIA

Por RODRIGO BRANDÂO


http://www.revistaboemia.com.br/Pagina/Default.aspx?IDPagina=148

Recentemente, em sua coluna na Folha, o jornalista Juca Kfouri, grande incentivador da Democracia Corinthiana, arriscou uma seleção composta por jogadores inteligentes: Rogério Ceni; Paul Breitner, Elias Figueroa, Beckenbauer e Sorín; Falcão, Sócrates e Cruijff; Cazely, Tostão e Valdano.

Sócrates é posterior ao elegante e diplomático Franz Beckenbauer, tricampeão europeu com o Bayern de Munique (1974, 75 e 76), campeão mundial com a Alemanha dentro e campo (1974) e fora dela (1990). Também é posterior ao irreverente e descolado Johann Cruijff, tricampeão europeu com o Ajax (1971, 72 e 73) e cérebro da Laranja Mecânica de Rinnus Mitchells. Aliás, Cruijff e Sócrates têm algo em comum além da inteligência: jamais ganharam uma Copa, mas suas seleções encantaram o mundo.

Cronologicamente, Sócrates pertence à geração dos argentinos Daniel Passarela, Mario Kempes e Diego Maradona (na única vez em que nos encontramos numa Copa, eu ganhei, relembra), do alemão Rummenigge, do francês Michel Platini, dos italianos Dino Zoff, Bruno Conti e Roberto Bettega, do polonês Boniek, do soviético Dasaev e dos brasileiros Júnior, Falcão, Cerezo e Zico.

Mas Sócrates Brasileiro tem orgulho mesmo é de pertencer à geração de Zé Maria, Juninho, Wladimir, Biro-Biro, Zenon e Casagrande. "Nenhum ambiente, nem o de 82, me fez tão bem como o da Democracia Corinthiana. Não troco a alegria de ter sido capitão daquele Corinthians por nada". Orgulha-se ainda de integrar o time daqueles que lutaram pelas Diretas-Já, como os artistas Fafá de Belém, sua conterrânea, e Chico Buarque, as atrizes Fernanda Montenegro e Regina Duarte e os políticos Franco Montoro e Dante de Oliveira, cuja emenda em favor do movimento levava seu nome. Coincidência: o primeiro comício das Diretas-Já em São Paulo foi em frente ao estádio do Pacaembu, onde o Corinthians mandava seus jogos.

O futebol, para Sócrates, só tem importância se existe um contexto social. "As minhas vitórias políticas são infinitamente superiores às minhas vitórias como jogador profissional. Um jogo acaba em 90 minutos. A vida prossegue. E ela é real".

Em 1984, Sócrates transferiu-se para a Fiorentina. Um gesto de oposição à derrota das eleições diretas. Na Itália, sofreu com o frio e com a solidão. "Para você ter ideia, meu melhor amigo era um argentino [Daniel Passarela]. Ainda bem que ele era gente boa". Quando rompeu o contrato com a equipe de Florença, deixou de receber algo em torno de um milhão e meio de dólares. "Eu não queria o dinheiro. Queria felicidade". Língua afiada e um calcanhar único. Preciso. Desafeto público de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Sócrates não se importa de comprar brigas com adversários fortes e implacáveis. "Dentro de campo, lembro que evitava o contato porque não tinha vantagens físicas. Fora dele, porém, eu compro, e vou comprar sempre, todas as brigas que julgo importantes para o meu país. Os principais gols de minha vida nada têm a ver com o futebol".

Eu percebo que você evita falar sobre futebol.

Não é que eu evito. É que o futebol, para mim, antes de tudo, tem um contexto social. Se você falar assim, 'ah, o cara chutou a bola, cruzou a bola'… Isso não é nada para mim. É mais ou menos como caminhar. O verbo caminhar não vale nada. Agora, se você caminhar do Palácio do Planalto até o Congresso Nacional para levar uma medida provisória que mude o país, aí é diferente. O conteúdo tem de ser diferente.

Então, diante disso, a Democracia Corinthiana foi mais importante do que fazer parte do inesquecível time de 82?


Sem dúvida. Nem se compara. Aquele time [da Copa de 82] era muito legal. Mas era uma coisa futebolística. E só. Tínhamos os melhores caras da época, tínhamos a melhor seleção. E eu era o capitão. Ou seja, uma bela de uma homenagem e também uma grande responsabilidade. Mas era futebol. Só futebol. Apesar de a linguagem futebolística ser aquela que une nosso país, nós precisamos de muito mais. Precisamos de educação, de conhecimento, de informação. E, de repente, você conseguir provocar, por meio dessa linguagem, algum tipo de mudança, isso é do caralho.

E como funcionava a Democracia Corinthiana?


Na verdade, de tudo que eu li na vida, de tudo que vivi, não há nada parecido com a Democracia Corinthiana. Vamos imaginar que você tenha se casado com uma mulher, tenha filhos, tenha uma funcionária. E que todos decidam, por exemplo, a que horas almoçar. Todos! Não apenas você. E que o voto da sua funcionária tenha o mesmo peso que o seu. Isso é democrático. O resto é figuração. O voto do nosso roupeiro tinha o mesmo peso que o dos diretores de futebol do Corinthians.

Como foi a repressão ao movimento? Vivíamos o governo Figueiredo, que era um militar.

Na realidade, não houve repressão. Houve reação. Reação ideológica. E era até ótimo. Quanto mais discussão houver, mais você cresce. Vai melhorando o seu sistema com o olhar externo. Burro daquele que se acha sábio. Em qualquer coisa que se faça na vida, mais você reflete sobre aquilo que você é, que você faz. E então melhora aquilo que está pretendendo fazer. Se for unânime, é uma porcaria. Nelson Rodrigues disse que toda unanimidade é burra. E é verdade. Porque você fica burro. Nós estamos num meio, falando em futebol, popular. Ninguém mexe com isso. É a maior força. Não é um indivíduo. É uma multidão que está atrás de você.

Quais os legados da Democracia Corinthiana?

Vou citar um só. Temos um presidente metalúrgico.

Como a mídia jornalística reagiu à Democracia?

Em qualquer proposta ou filosofia diferenciada, você cria adesões e cria defecções. Aliás, é muito pertinente defecções. Lembra merda. Boa lembrança! Não só para um lado. Para o outro também. Seres humanos são criados para criar. Triste do homem que não cria. Que não cria diferenças, não cria novidades, que não discute nem provoca reflexões. Infelizmente, todo processo humanístico da metade do século passado até hoje é para que o homem vire uma rês. Seja vaca, seja boi ou seja touro. Uma rês. Infelizmente. E toda discussão que tivemos dentro do processo corinthiano era que, ali dentro, cada ser humano fosse respeitado como tal, como indivíduo. Que tivesse suas responsabilidades. Que fosse tratado como cidadão. Porque o jogador de futebol, o roupeiro menos ainda, o massagista também menos ainda, são tratados como meros coadjuvantes num processo que deveria ser humano e não é. É econômico, financeiro, político. É manipulado de todas as formas. A crise econômica que a gente passa hoje, por exemplo, é uma quebra dos tabus da virtualidade em que a economia foi apoiada. Cadê o humano? Cadê o trabalho? Cadê a profissão? Karl Marx, há quase 200 anos, escreveu basicamente isso que está acontecendo agora. Se você reler O Capital hoje, vai dizer: “pô, isso é uma mentira, o que vale é o ser humano, é o homem, é o produtor, é o cara que tá lá com a mão na massa, não é essa porcaria de bolsa de valores”. Isso é tudo virtual. Uma hora explode mesmo. E o pior é que o ser humano não aprende.

Naquele time, todo mundo aderiu? Como era sua relação com o Leão, por exemplo?

Uma merda. O Leão não é um ser humano. Estamos falando de seres humanos. O Leão, na verdade, é uma distorção da geração que Deus imaginou. Mas eu não tenho nada contra ele. As pessoas são o que são. Agora, ele é uma figura que carrega dentro de si alguns grandes defeitos humanos. Todos nós temos defeitos, ele tem múltiplos. Mas não é uma culpa dele, não. Ele nasceu com isso. Não é algo que foi emprestado pela sociedade. Está na genética.

Isso contradiz sua análise marxista.

Não quero mais falar sobre o Leão.

E sua relação com o resto da equipe? Todo mundo aderiu? Eram pessoas que discutiam também?

Aquilo só funcionou porque, de alguma maneira, iniciou-se uma convulsão. Juntaram-se várias pessoas no mesmo ambiente, na mesma época. Foi um acidente. Revoluções não acontecem na hora em que você quer. Che e Fidel não se juntaram por acaso. Alguém colocou os dois juntos. E com mais 14 ou 15 pessoas, eles fizeram aquela porcaria funcionar e a realidade social de Cuba ficou a coisa mais linda do mundo. Um monte de gente se juntou em determinado momento e criou-se a condição para que se tivesse uma revolução. As pessoas, no começo, tinham muito medo. Mas tinham alma. Isso era o mais importante. Tinham medo porque nunca foram estimuladas a participar de nada, a ter voz ativa e, de alguma forma, a participar das decisões. Todo mundo tem medo disso. Até hoje. Qualquer sociedade é assim, qualquer empresa. Tem um dono que impede as pessoas de tomarem suas decisões antes de imaginar quais sejam. Ali, não. Ali era do caralho. As pessoas foram estimuladas o tempo todo a ter autonomia. Por isso que ninguém daquela turma está mal. Todo mundo virou gente, virou cidadão, conseguiu se entender como ser humano dentro de um processo social.

A mídia participou? O Juca Kfouri participava? Quais jornalistas eram mais próximos?

Existiam dois grupos. Um, que era de esquerda, liderado pelo JB [Jornal do Brasil] e Folha, que apoiava. O Juca era um dos jornalistas que apoiava. Do outro lado havia Estadão e O Globo. É natural. Mas todos eles, de algum modo, foram importantes no processo. O debate era fundamental. Nós chegamos a um ponto, num país que estava há quase 20 anos sem votar para presidente… Foi demais. A primeira campanha do Lula, em 1982, nós bancamos dentro do Corinthians. Fizemos um jogo de manhã, um churrasco à tarde e um show à noite. Reunimos toda a galera para gerar recursos. É por isso que eu falo: se temos um metalúrgico na presidência é culpa nossa também.

Que avaliação você faz do governo dele?

Eu adoro fazer analogia. Namorar uma mulher e ela gozar cinco vezes é pouco. Governo Lula é isso. Mas é muito melhor do que não gozar.

Magrão, fale sobre o Cauim, que é um projeto de cunho social.

O Cauim é um sonho. Eu sou novato no Cauim. Primeiro, descobri o Kaxassa [Fernando, fundador do Cauim]. Um cara que eu pus o nome de Kaxassa com “k”, “x” e dois “esses”. Ele foi o genitor do cinema, que não tem bilheteria, com propostas educativas para um público que nunca teve acesso. Tem gente, meu amigo, que não tem como pagar R$ 50,00 para ir ao cinema, assim como não tem para ir ao teatro, a um show de R$ 200,00. Se eu fosse dono desta merda [provavelmente alguma área pública], e eu não sou e não vou ser nunca, eu ofereceria um espaço público para o Chico Buarque vir cantar. Quem tem condições, paga R$ 150,00. Mas ele tem obrigação, e ele toparia, de fazer um show para o povão, de graça. Porque o espaço é público. Todo mundo paga. Uns pagam mais, outros pagam menos, porque existem as castas. No meu sonho, todos têm as mesmas oportunidades. Mas não temos porque esta merda é voltada para a exploração do homem pelo homem. Lembrei agora da Revolução dos Bichos, de George Orwell. Qualquer criança tinha que aprender a ler com aquilo.

Vou voltar um pouco para o futebol. Quem foi o cara no Corinthians: Rivelino, Sócrates, Neto ou Marcelinho Carioca?

Cláudio [Cristóvão do Pinho, campeão paulista pelo Corinthians em 1954]. Tem uma história ótima dele. Eu só estive uma vez com o Cláudio, ele já tinha 60 e tantos anos. Foi num jogo, numa festa que fizeram no Pacaembu. Corinthians inglês, um time amador, contra os antigos jogadores do Corinthians brasileiro. Na hora que terminou o jogo, o Cláudio conversou com o Juca: “agora eu descobri por que o Magrão foi campeão pelo Corinthians. Porque ele joga com a gente”. Foi a maior homenagem que eu recebi na minha vida.

E a relação com a Fiel, já que você tem uma vocação popular e a torcida traduz muito isso? Tinha conversa, diálogo?

Outro dia me perguntaram a mesma coisa. Não sei se eu tinha vocação popular. Quem me fez ser o que eu sou foi a Fiel, que é a cara do Brasil, a cara do brasileiro. Eu sou o que sou por causa da Fiel. Eles me fizeram assim. Eu sou um cargo de mandato sem mandato. Pô, cara!, vou brigar com este povo que me deu tanta coisa, me ensinou e ensina tanta coisa?

Magrão: qual foi o jogo e qual o gol da sua vida?

O maior jogo da minha vida está para acontecer ainda. Agora, em cima da sua pergunta, a emoção maior que eu tive na vida até hoje, como profissional de futebol, foi ouvir o Hino Nacional brasileiro, em Sevilha, no primeiro jogo da Copa do Mundo de 82, como capitão, representante da geração. Uma coisa é ter um filho. E eu sei, sou apaixonado por eles todos. Outra coisa é você ter milhões de filhos naquele momento.

Sua consciência também foi levada para o grupo da seleção?

Nós tínhamos um grupo em que todo mundo era ídolo nos seus clubes. Naquela época, quem era o melhor jogador do Brasil? Na verdade, existiam quatro grandes jogadores: um gaúcho, o Falcão, que jogava em Roma; o Zico, no Rio; eu, em São Paulo; e o Cerezo, em Minas. Se você deixa a rivalidade correr nos bastidores, não consegue formar uma equipe. Porque vira competição. A gente saía e dizia em público: o melhor jogador do Brasil é o Zico. E era mesmo.

Melhor do que o Falcão?

Tá de sacanagem, cara?!!! Era melhor do que todo mundo, porra! Melhor do que eu. O Zico era foda. O Zico decidia, velho. E, sendo o melhor, ele era o rei. Quando há um rei, o resto briga para chegar perto do rei. Quando não há rei, todo mundo se mata. Vira tudo súdito. Em qualquer sociedade é assim. Você briga para chegar até ele. Se deixar sem líder, ninguém faz nada. Não é uma visão minha, é uma visão filosófica da sociedade. Não é minha, é maquiavélica. O Príncipe dizia isso. Eu só usei.

Muitos dos de 82 estiveram em 86, que foi um grande time e também chegou perto.

Desculpe, mas não existe essa comparação. É aquela coisa: você conquista a mulher da sua vida. Em 82 era isso. Em 86 podia até ser uma mulher muito mais gostosa e bonita. Para os outros, não para você. Não era a mulher da sua vida.

Quando o Raí ganha a Copa em 1994, houve uma sensação de complemento?

O Raí é muito diferente de mim. Ele é tímido pra caramba. Eu também sou, mas ele é o tímido que não briga. Ele é articulador, mas não briga. Ele é mais polido, eu sou mais agressivo. Em 1994, eu jamais sairia do time. Eu falo para ele: “porra, Raí, caralho, capitão do time não sai. Briga. Põe a merda pra correr”. Eu jamais sairia. Até porque era injusto. Se viesse jogando mal, tudo bem. Mas ele não merecia sair. Ele era o capitão. E um capitão sair durante a Copa do Mundo, eu não lembro de nenhum. Agora, tem coisa mais linda? Ele aceitou, ficou no banco, tudo pelo coletivo. E foi campeão. Eu não aceitaria. No mínimo, no mínimo, eu pegaria um voo de volta. Se você é o capitão da seleção, você é o representante mor daquela porra. Representante do time e da nação. Isso não muda em uma semana. É uma conquista que tem uma história. E ninguém pode pisar na sua história. Pisaram na história dele. Se fosse um jogador comum… Não, ele era o capitão. Sacanearam o Raí.

O que eu quis dizer foi o seguinte: o Raí foi campeão mundial com o São Paulo em 1992 e, logo, deu, digamos assim, um título mundial ao Telê. Depois, foi campeão mundial com a seleção. É essa sensação de complemento a que me refiro. Foi um cala-boca nos que cobram vitória?

Sinceramente, eu não vejo assim. Em 82 existia um sonho de jogar bola bonito. O Telê preservava isso. Agora, eu não acredito em vitória. Nem em sucesso. É tudo especulação. Nós somos frágeis, somos fracos, somos carentes. Todos nós. Existem sobrevidas. Mas a maior parte da vida é de carência, sofrimento, dor, de ir buscar um monte de coisa que a gente não conquistou. E conquistar não quer dizer ganhar, não quer dizer ter sucesso. Conquistar é aquilo que lhe dá prazer, que lhe faz bem, que lhe dá felicidade. Eu não acredito nesse discurso da sociedade contemporânea, tudo voltado para a Ilha de Caras. Falsidade do caralho. Mostram coisas muito bonitas, muito ricas. Se você pegar a maior parte das pessoas que tiram foto naquela revista, elas não estão em casa. Na casa delas é muito mais difícil. A vida é muito maior do que o sucesso. A vida é real, cara. A casa delas é que vale, é onde elas choram.


03/06/2009

Testamento
Manuel Bandeira


O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!

(29 de janeiro de 1943)

02/06/2009

velhice

"A velhice poderia ser a suprema solidão, não fosse a morte uma solidão ainda maior." JOSÉ LUIS BORGES


01/06/2009

meu Eu sujo

Quando a gente fala da gente só fala bem. Tô puto comigo e resolvi escrever sobre MEU EU SUJO. Aposto que você também tem um, com diferente sujeira, mas com o mesmo asco.



1. Tenho medo excessivo do fracasso;
2. Não lido bem com críticas;
3. Já magoei muito pessoas que me amavam demais;
4. Por diversas vezes, menti só pra satisfazer meu ego;
5. Tenho muita dificuldade de levantar das quedas;
6. Sou volúvel;
7. Sou mulherengo;
8. Sou indeciso;
9. Fujo dos meus próprios problemas;
10. Não sou um bom filho;
11. Poderia ser um esposo melhor;
12. Tenho vontade frequente de deixar de existir;
13. Sou gordo;
14. Sou desorganizado;
15. Acho que mais atrapalho do que ajudo quem do ama;
16. Escrevo mal;
17. Me sinto perdido em relação à minha carreira;
18. Me sinto perdido em relação a que rumo dar a minha vida.

31/05/2009

twittosfera

O Twitter é um sala ampla, com milhões de pessoas que não se conhecem e gritam simultâneamente. Mas você só ouve quem você quer ouvir e só te escutam os que te acham interessante.

Olhou a sala ampla, com pessoas sentadas em cadeiras dispostas de forma aleatória, de olhos fechados, estando alí sem estar alí.

De repente, alguém levantou-se da cadeira e falou algo antes de sentar-se novamente e emudecer. Desordenadamente, várias passoas se levantaram, falaram e se calaram, seguidas por outras, que eram seguidas por outras e outras... Percebeu que ele podia ouvir apenas quem ele quisesse ouvir, de acordo com seus interesses. Começou a falar também. Logo percebeu que umas centenas de pessoas o escutavam e por vezes se comunicavam com ele, embora ele não as conhecesse.

Descobriu que quando alguém repetia suas falas, era como se estivisse lhe aplaudindo. Percebeu também, que na sala havia gente de todo o mundo e que ele podia ouvir e falar com gente do outro lado do oceano, na mesma sala, sem sair de lá.

Ficou cansado, desocupou a cadeira, saiu da sala. Lá fora, o mundo ainda era cinza, com carros, sujeira, mendigos e sonhos frustrados. Dormiu.

No dia seguinte voltou mais cedo para a sala. Falou mais. Ouviu mais. Saiu mais tarde da sala. Dormiu menos. Voltou mais cedo. Intensificou a presença na sala e a ausência do mundo, conectando-se de tal forma à sala que não imaginava como viver sem ela.

Aos poucos, as células de sua pele deram lugar aos bits. Ele nem se dava conta. Apenas falava e ouvia e ouvia e falava.

Já não trabalhava, já nao produzia, sua alma virou software e seu corpo foi encontrado abandonado, no apartamento. Acreditava não precisar mais do mundo físico. Agora, ELE falava e O ouviam, como nunca acontecera em toda sua vida.

EDNALDO TORRES FELICIO
maio/2009

26/05/2009

Borboletas

Música linda vídeo lindo que compartilho com vcs


Cintia



Você vai me Seguir
Chico Buarque

Composição: Chico Buarque

Você vai me seguir aonde quer que eu vá
Você vai me servir, você vai se curvar
Você vai resistir, mas vai se acostumar
Você vai me agredir, você vai me adorar
Você vai me sorrir, você vai se enfeitar
E vem me seduzir
Me possuir, me infernizar
Você vai me trair, você vem me beijar
Você vai me cegar e eu vou consentir
Você vai conseguir enfim me apunhalar
Você vai me velar, chorar, vai me cobrir
e me ninar

Ontem, 25 de maio, foi aniversário da MULHER QUE AMO.



Pequeña Serenata Diurna
Chico Buarque

Composição: Sílvio Rodriguez

Vivo en un país libre
cual solamente puede ser libre
en esta tierra, en este instante
yo soy feliz porque soy gigante.
Amo a una mujer clara
que a muy me ama
sin pedir nada
o casi nada,
que no es lo mismo
pero es igual


Y si esto fuera poco,
tengo mis cantos
que poco a poco
muelo y rehago
habitando el tiempo,
como le cuadra
a un hombre despierto.
Soy feliz,
soy un hombre feliz,
y quiero que me perdonen
por este día
los muertos de mi felicidad.

22/05/2009

Garçonete




Era um bar comum, numa rua de São Paulo, com Cake tocando no rádio, flyers colados na parede, risos e cigarros. Sentei-me ao balcão.

Atendeu-me vestindo um espartilho preto e seus seios pulavam em direção aos meus olhos.

Tinha tatuada no braço esquerdo uma pin-up que bem poderia ser Dona Maria Padilha (Salve Pomba Gira!).

Seus seios eram copos de leite fartos, sua cintura era fina como se fosse a América Central unindo exuberantes continentes e suas ancas, redondas sob o jeans baixo, bailavam entre as mesas, enquanto ela atendia aos pagãos.

Sabia que a cobiçava e parecia divertir-se com isso.

Por vezes, cruzava o olhar com o meu e provocando, me encarava a alma, sorrindo maliciosa, antes de levar a cerveja à mesa ao lado.

E quando eu menos esperava, ela abraçou a dona do bar e lhe deu um beijo úmido, intenso e apaixonado. "Vou jantar." Olhou pra mim e sorriu, antes de sumir cozinha adentro.

Fiquei congelado alguns minutos, mudo.

Paguei a conta e saí. Sabia que tinha visto Nefertiti em sua forma mais bela.

EDNALDO TORRES FELICIO
maio/2009

pra meus amigos de Portugal

São os portugueses mais gente boa que um brasuca pode seguir no twitter


19/05/2009

Glória


Por que gosto tanto de ti?
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Deve ser essa mania minha de achar diamante em meio à multidão, esse dom de ver estrelas em olhos doces e a infinita vontade de acreditar que pessoas essencialmente lindas existem.
.
Mas só um cego não enxerga tamanha luz no teu sorriso. Só um louco ignora as flores nascendo de teus passos, o calor do toque de tuas mãos e as asas prateadas que nascem desde suas costas, mas que escondes, por modéstia.
.
Não era difícil gostar de ti.
.
Como diabos não gostar dessa energia sagaz que transforma átomos em matéria, planos em ação, idéias em objetos?
.
Gostar de ti, afinal, foi obvio como aquecer-se sob o sol em fevereiro na Barra. Foi inevitável como a atração dos corpos celestes, foi a consequencia de eu ser o Poeta e você ser Poesia.
.
Poesia de Glória, descrita em prosa...

18/05/2009

para Danni Morena




Ligia
Chico Buarque
Composição: Tom Jobim

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou à Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol

E quando eu lhe telefonei
Desliguei, foi engano.
Seu nome eu não sei,
Esquecí no piano as bobagens de amor
Que eu iria dizer

Não, Lígia, Lígia.

Eu nunca quis tê-la ao meu lado
Num fim de semana

Um choop gelado em Copacabana
Andar pela praia até o Leblon

E quando eu me apaixonei
Não passou de ilusão
O seu nome rasguei
Fiz um samba-canção
Das mentiras de amor
Que aprendí com você.

Lígia, Lígia.

E quando você me envolver nos seus braços serenos
Eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo
Que um raio de sol

Ligia, Ligia.

16/05/2009

NOITE NA AORTA (RUA) AUGUSTA

São Paulo pulsa seus loucos
entre bares, baladas, mentiras e amores.

Meninas de mãos dadas,
meninos que se beijam,
casais convencionais
e porteiros de bordéis
dividem a mesma Augusta Rua.

Goles de cerveja
guimbas de cigarro,
tocos de maconha, agulhas e pó
circulam pela noite
enquanto um padre francês distribui comida aos mendigos

Buzinas cheias de malícia
sinalizam a cobiça
dos motoristas às putas nas calçadas

Tribos se trombam
e passam
entre olhares raivosos

Gritos de briga
misturados a risos amigos
tudo abafado pelo som alto de um carro azul...

Tudo pulsa na Aorta Augusta
da minha cidade cinza e bonita
surreal e etéria,
tangível e fria.

Em frente ao Tieta
um catador de latinhas
canta baixinho
lembrando de seu Cariri...


EDNALDO TORRES FELÍCIO

14/05/2009

passárgada


Vou-me Embora pra Pasárgada
Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei



Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive



E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada



Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar



E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

09/05/2009

CONFISSIONÁRIO

DETESTO MINHA IRMÃ.

Ontem, depois de mais um show que ela fez quando fui visitar meus pais, descobri o adjetivo que mais lhe cabe: ABSURDA.

Minha irmã é absurda. Um aborto de sí mesma. Uma pessoa em constante boicote de si própria para se fazer de vítima perante o mundo.

Ela não é má. Ela não é louca. Ela não é esquizofrênica. Ela é absurda.

Se me descrevessem alguém como ela, eu acharia falso. Mas ela existe. ABSURDAMENTE ELA EXISTE.

Que pena que ela more com meus pais. Visito-os menos do que poderia porque não tenho saco de andar 30 km num transito doido para agüentar provocações de uma mulher absurda.

Embora ela tenha sido gerada pela mesma mãe e tenhamos o mesmo pai não somos irmãos.

Ela é absurda.

05/05/2009

FOTO

FOTO TIRADA POR MIM NA FINAL DO PAULISTÃO COM CORINTHIANS CAMPEÃO (achei a foto bonita)

02/05/2009

O DIA EM QUE TIREI UM SARRO DO JOSÉ SERRA, GOVERNADOR E VAMPIRO



Abertura do Ano da França no Brasil. Evento bonito no Parque da Luz, aqui em Sampa. Meia noite. Tochas iluminando o parque. Artistas franceses decoraram o velho Parque com instalações que misturavam fogo, fumaça e música. Muita gente para ver a bela exposição.
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Em meio à muvuca, cercado de repórteres e seguidores, eis que aparece o José Serra, o Vampiro Brasileiro, aquele que já se acha Presidente do País em 2010, ladeado por Kassab, seu filho draculino, visitando as obras expostas.
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Me aproximei e gritei alto, erguendo o polegar: "Serra!"
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Ele olhou e sorriu largo. Estava orgulhoso de si. Achava que eu era seu eleitor.
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Em seguida emendei: "Vai perder outra Eleição! 2010 é Dilma! Viva Lula!!!"
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Ao ouvir minhas palavras, a face do Governador sobreu metamorfose: seu sorriso quase humano sumiu, sua cara fechou-se, mostrando sua face Vampiresca. Ao seu lado, Kassab riu (RIU MESMO). As pessoas ficaram quietas, surpresas. Serra me encarando muito nervoso. Estávamos muito próximos. Achei que, se ele pulasse, conseguiria morder minha jugular. Ri de meu pensamento. Alguém gritou ao fundo "É Lula!!!"
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Dei as costas ao Governador e saí soberbo. Escutei ainda mulher gritar "Vai pra casa, otário", se referindo, imagino, a mim (ela tinha voz de tucana Cansada). MInha esposa emendou incisiva: "Ele já falou com o Porcão, não precisa falar com porquinhos."
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Saímos rindo enquanto minha filha dizia: "Ae Pai... uhúúúú´Mandou bem!!!" MInha afilhada bateu em minha mão e sorriu me dizendo "Tio, você é ótimo!"
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kkkkkkkk Não podia deixar de contar isso a vocês. O sorriso do Vampiro que se transformou numa fração de segundos numa cara amarrada. FOI LINDO.
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ESTOU ME AMANDO. hahahahahhahahahahah
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Abraços

29/04/2009

O Amanhã É Distante

O Amanhã É Distante

Composição: Bob Dylan/Versão: Geraldo Azevedo/Babau

E se hoje não fosse essa estrada
Se a noite não tivesse tanto atalho
O amanhã não fosse tão distante
Solidão seria nada pra você

Se ao menos o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama outra vez

Meu reflexo não consigo ver na água
Nem fazer canções sem nenhuma dor
Nem ouvir o eco dos meus passos
Nem lembrar meu nome quando alguém chamou
Se ao menos o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama outra vez

A beleza do rio do meu canto
A beleza em tudo o que há no céu
Porém nada com certeza é mais bonito
Quando lembro dos olhos do meu bem
Se ao menos o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama outra vez

24/04/2009

frio


- QUEM CLAMA? - A Voz veio de longe...
Senti medo. Parei de pedir ajuda por alguns momentos, mas meus ossos doíam no frio intenso e minha face era queimada pelo vendo.
Por todos os lados, o gelo branco. O maldito assobio do vento, sempre no mesmo tom, sempre na mesma nota, incessante, angustiante, enlouquecedor.
Gritei por socorro e por socorro e por clemência, mas só o eco me respondia... Até que a Voz fez-se novamente presente. Grutural, monstruosa, vinda da amplidão clara de gelo e neve.
- QUEM CLAMA?????
Não havia onde me esconder. Me agachei impulsivamente, como se me defendesse de um golpe e balbuciei:
- sou eu...
Silêncio. Segundos de silêncio que pesaram ainda mais meu terror e curvaram minha coluna escondendo minha cabeça entre os joelhos.
- NÃO TENS DIREITO A CLAMOR!!!!! - A Voz chacolhou a neve e o gelo - FOSTE SEMPRE VIL. FOSTE SEMPRE INCLEMENTE E AGORA CLAMAS POR SOCORRO????? ÉS UM ANIMAL E COMO TAL SERÁS AQUI TRATADO POR TODA A ETERNIDADE!!!!!!
Calou-se. O vento voltou a soprar sua canção monotônica e eu entendi, por fim, que o Inferno não era quente, pelo meno não naquela parte...


EDNALDO TORRES FELICIO
abril/09

21/04/2009

cadeira elétrica


The Mercy Seat
Johnny Cash



It all began when they took me from my home
And put me on Death Row,
a crime for which I am totally innocent, you know.

I began to warm and chill
To objects and their fields,
A ragged cup, a twisted mop
The face of Jesus in my soup
Those sinister dinner deals
The meal trolley's wicked wheels
A hooked bone rising from my food
All things either good or ungood.

And the mercy seat is waiting
And I think my head is burning
And in a way I'm yearning
To be done with all this weighing of the truth.
An eye for an eye
And a tooth for a tooth
And anyway I told the truth
And I'm not afraid to die.

I hear stories from the chamber
Christ was born into a manger
And like some ragged stranger
He died upon the cross
Might I say, it seems so fitting in its way
He was a carpenter by trade
Or at least that's what I'm told

My kill-hand's
tatooed E.V.I.L. across it's brother's fist
That filthy five! They did nothing to challenge or resist.

In Heaven His throne is made of gold
The ark of his Testament is stowed
A throne from which I'm told
All history does unfold.
It's made of wood and wire
And my body is on fire
And God is never far away.

Into the mercy seat I climb
My head is shaved, my head is wired
And like a moth that tries
To enter the bright eye
I go shuffling out of life
Just to hide in death awhile
And anyway I never lied.

And the mercy seat is waiting
And I think my head is burning
And in a way I'm yearning
To be done with all this weighing of the truth.
An eye for an eye
And a tooth for a tooth
And anyway I told the truth
And I'm not afraid to die

And the mercy seat is burning
And I think my head is glowing
And in a way I'm hopin'
to be done with all this twistin' of the truth.
An eye for an eye
And a tooth for a tooth
And any way there was no proof
And I'm not afraid to die

And the mercy seat is glowing
And I think my head is smoking
And in a way I'm hopin'
to be done with all these looks of disbelief.
A life for a life
And a truth for a truth
And I've got nothin' left to loose.
And I'm not afraid to die

And the mercy seat is smoking
And I think my head is melting
And in a way that's helpin'
to be done with all this twistin' of the truth
An eye for an eye
And a tooth for a tooth
And any way I told the truth
But I'm afraid I told a lie.

17/04/2009

pornográficos

Oh! Sejamos pornográficos

(docemente pornográficos).

Por que seremos mais castos

Que o nosso avô português?



Oh ! sejamos navegantes

Bandeirantes e guerreiros

Sejamos tudo que quiserem

Sobretudo pornográficos.



A tarde pode ser triste

E as mulheres podem doer

Como dói um soco no olho

(pornográficos, pornográficos).



Teus amigos estão sorrindo

De tua última resolução.

Pensavam que o suicídio

Fosse a última resolução.

Não compreendem, coitados,

Que o melhor é ser pornográfico.

Propõe isso a teu vizinho,

Ao condutor do teu bonde,

A todas as criaturas

Que são inúteis e existem,

Propõe ao homem de óculos

E à mulher da trouxa de roupa.


Dize a todos: Meus irmãos,

Não quereis ser pornográficos?


carlos drummond de andrade

16/04/2009

pernas




O bonde passa cheio de pernas:

pernas brancas pretas amarelas

Para que tanta perna, meus Deus, pergunta o meu coração.

Porém meus olhos

não perguntam nada.

(Poema de sete faces - Drummond)

Bento XVI - Não use camisinhas!

Sont les mots qui vont tres bien ensemble

Começo de namoro. Eu e a Cintia, minha atual esposa, passávamos a madrugada na sala da casa dela se amando ao som dos Beatles.

No velho 3 em 1 da Sony ouvíamos os caras de Liverpool cantando Michelle com alguns versos em francês. Nem sabíamos que era francês! Apenas gostávamos e nos amávamos. Nos amávamos muito, como continuamos nos amando mais de uma década depois.

Tenho certeza de que escolhi a melhor mulher que passou pela minha vida. A mais bonita, a mais elegante e a mais sofisticada.

Foi ao som dos caras de Liverpool que descobri tudo isso





Michelle, ma belle.
These are words that go together well,
My Michelle.

Michelle, ma belle.
Sont les mots qui vont tres bien ensemble,
Tres bien ensemble.

I love you, I love you, I love you.
That's all I want to say.
Until I find a way
I will say the only words I know that
You'll understand.

I need you, I need you, I need you.
I need to make you see,
Oh, what you mean to me.
Until I do I'm hoping you will
Know what I mean.

I love you.

I want you, I want you, I want you.
I think you know by now
I'll get to you somehow.
Until I do I'm telling you so
You'll understand.

I will say the only words I know that
You'll understand, my Michelle.

11/04/2009

NASSIF fala sobre o caso do Adriano, o Imperador

Nassif fez um espetacular comentário sobre como a mídia está tratando o caso do Adriano, o Imperador.




De volta pro meu aconchego
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Poucas vezes vi gesto mais humano, mais rico, do que o jogador Adriano explicando porque vai parar de jogar e voltar a favela. Nesses tempos em que a hipercompetição provocou as neuroses do trabalho, os workaholics (e quem escreve é um), a competição feroz, o craque de reputação internacional manda parar tudo e diz: quero voltar para a favela e conviver com meus amigos.
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Ele é o são. Doentes somos os que trabalham dia e noite, sem tempo para curtir amigos e família, os que eram felizes e não sabiam, os que vão atrás das turmalinas da vida, os que não tem tempo sequer para algumas rodadas de choro no bar do Alemão.
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E os doentes reagem. Jornais saem atrás de explicações estapafúrdias, envolvimento com tráfico, piração, depressão. Os doentes reagem violentamente contra os que expõem a eles próprios suas neuras, seu suicídio diário engolindo sapo, abandonando as raízes, esquecendo a família.
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Tempos atrás trabalhou comigo uma parente do Cafu que contava sobre a fundação que ele fez para amparar o bairro pobre onde ele nasceu. Sempre valorizei muito os que têm orgulho da sua origem. Não apenas orgulho, mas gratidão pelos valores recebidos, pelo círculo de afetos.
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Não tenha dúvida de que tanto Cafu quanto Adriano são grandes pessoas. E absolutamente normais, mesmo passando por crises, ao contrário dos que tentaram encontrar motivos anormais para seu gesto.
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http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/04/10/de-volta-pro-meu-aconchego/