16/05/2009

NOITE NA AORTA (RUA) AUGUSTA

São Paulo pulsa seus loucos
entre bares, baladas, mentiras e amores.

Meninas de mãos dadas,
meninos que se beijam,
casais convencionais
e porteiros de bordéis
dividem a mesma Augusta Rua.

Goles de cerveja
guimbas de cigarro,
tocos de maconha, agulhas e pó
circulam pela noite
enquanto um padre francês distribui comida aos mendigos

Buzinas cheias de malícia
sinalizam a cobiça
dos motoristas às putas nas calçadas

Tribos se trombam
e passam
entre olhares raivosos

Gritos de briga
misturados a risos amigos
tudo abafado pelo som alto de um carro azul...

Tudo pulsa na Aorta Augusta
da minha cidade cinza e bonita
surreal e etéria,
tangível e fria.

Em frente ao Tieta
um catador de latinhas
canta baixinho
lembrando de seu Cariri...


EDNALDO TORRES FELÍCIO

2 comentários:

Ana Martins disse...

Olá Ednaldo,
Em Lisboa, Portugal, também existe uma Rua Augusta. É diferente. Cortada ao trânsito situada na baixa da cidade, serve de passagem em passo corrido de quem vai atrasado para o emprego. Mas há aqueles que não correm. Muitos artistas pintam no chão, em telas improvisadas qual verdadeiro atelier montado a céu aberto. Repórteres de TV entrevistam passantes sem vontade de estugar a passada ou aparecerem no ecran, outros param a admirar a parafernália de máquinas e cabos. Acenam parvamente (verem-se no noticiário é o seu momento de glória do dia). Músicos desempregados tocam a cada esquina, há sempre um chapéu envergonhado esperando algumas moedas. E ainda me recordo que na Rua Augusta, se vê na entrada dos prédios ou lojas, muito papelão - daquelas embalagens grandes de frigoríficos ou máquinas de lavar. Todos olham para o outro lado, ou saltam por cima. Eu fico a observar com respeito. É território de alguém, a casa de algum mendigo sem-abrigo, reparo nos poucos haveres armazenados num canto num saco surrado. Respiro fundo e e olho para cima, o céu tão azul, os prédios pombalinos tão bonitos e alinhados. Como podem permitir que pessoas durmam nos cartões no frio de Inverno? A música que ecoa a cada esquina é tão amiga de fazer esquecer os problemas, os nossos e os dos outros...
Um abraço do outro lado do Atlântico,
Ana Martins

Daniela Slindvain disse...

Taí... eu gostei meu amigo!!! :-)
Beijos... Dani