19/06/2011

Augusta Madrugada

Três da manhã.
Insone.
O bebê acaba de dormir. A mulher, em sua loucura, se banha de ódio e eu desço para o bar.

Três da manhã.
O bar está repleto de perdedores.
Mulheres procurando o homem perfeito, homens procurando qualquer boceta que lhes caiba.

Três da manhã.
Uma loira linda pede Legião.
Três da manhã. Um cara louco canta Legião para comer a loira.
Bebo minha cerveja e vejo tudo sem nada ver.

No apartamento MEU FILHO dorme,
 ingênuo.
A esposa descansa,
efêmera.
Três da manhã...

às quatro uma louca chora no ombro do "amigo",
um maluco vomita e eu bebo Jack Daniel's.

Estou igual a eles: perdido, triste, derrotado.

Um abraço etílico e subjetivo: loucos da Rua Augusta.

Seis da manhã.
Volto para casa.
Não comi ninguém e nem queria. Minha dor é maior que o sexo.

Seis da manhã.
A esposa dorme na mesma cama que o bebê.

Tenho a impressão de que essa casa não me cabe. Sou muito pequeno.
Derrotado igual aos bêbados das três da manhã.

Sei que o casamento está esfarelando.
Sofro por isso.
De quê adianta?

Seis da manhã.
Cachaça e wisky não me embriagam tanto
quanto o sangue que passa no meu coração
e se perde em lamentos.

EDNALDO TORRES FELICIO
19/06/2011
06:11HS

01/06/2011

RECÉM-NASCIDOS


"...entrei no elevador e subi para ir olhar no berçário. Devia haver uma centena de recém-nascidos ali, atrás daquele vidro, chorando. Sem parar. Esse negócio de nascer. E de morrer. Cada um na sua hora. A gente chega sozinho e vai-se embora do mesmo jeito. E a maioria passa a vida sem ninguém, assustada e sem entender nada. Uma tristeza indizível tomou conta de mim. Vendo todas aquelas vidas que teriam que morrer. Que primeiro se transformariam em ódio, em crime, em nada. Nada na vida e nada na morte."
                                                                                                                                      Bukowski