30/12/2007

Conto de reveillón

Se detestava cada vez que pensava nela.
Se detestava cada vez que imaginava o cheiro do corpo dela, o gosto da carne dela, a bunda dela na mão dele.
Tinha se detestado muito nos últimos dias...
Tinha enlouquecido de desejo e desilusão no útlimo encontro, tinha esquecido de como era ruim aquela sensação no peito, corroendo o amor-próprio, corroendo o próprio encanto.
Afinal, o que era ela em sua vida? Ou o que era sua vida sem ela?
Sabia que ela conhecera outras camas em outros sonhos. Sabia que ele era, dela, o pesadelo. Sabia que ela era, dele, a insônia.
E ele caminhava sozinho pela Rua Augusta. E ele tinha devaneios e mal via as mesas dos bares, espalhadas pelas calçadas sujas. E ele era um louco urbano pensando nela nela nela nela nela.
Foi perto do Vitrine, que viu a Outra. Talvez um pouco menor, talvez um pouco mais magra. Não tão bela. Mas servia. 100 pratas. 100 pratas. Sem perguntas. Sem romance.
No Hotel Savoy, ele torceu para que Ela encorporasse na Outra. Para que a Outra gemesse como Ela, para que Ela não fosse outra. Claro que não deu certo.
Ele se detestou e continuou animalesco, afinal, se não era Ela, a Outra lhe garantiria ao menos o gozo...
A noite de Ano Novo não livrou-lhe, afinal do velho fantasma: O velho maldito amor.



EDNALDO TORRES FELÍCIO
São Paulo, próximo à noite de reveillón

26/12/2007

WISKEY BAR... THE DOORS - Post Etílico pré reveilón



TRADUÇÃO DA MÚSICA

WHISKEY BAR/CANÇÃO DE ALABAMA


Então, me mostre o caminho
Para o mais próximo whiskey bar
Oh, não pergunte por que
Oh, não pergunte por que

Se nós não encontrarmos o caminho
Para o próximo whiskey bar
Eu acho que vamos morrer
Eu acho que vamos morrer
Eu acho, eu acho
Eu acho que vamos morrer

Oh, lua de Alabama
E hora de dizer adeus
Nós perdemos nossa boa e velha mãe
E precisamos de whiskey, oh, você sabe por que

Então, me mostre o caminho
Para a próxima garota
Oh, não pergunte por que
Oh, não pergunte por que

Se nós não encontrarmos o caminho
Para a próxima garota
Eu acho que vamos morrer
Eu acho que vamos morrer
Eu acho, eu acho
Eu acho que vamos morrer

Oh, lua de Alabama
E hora de dizer adeus
Nós perdemos nossa boa e velha mãe
E precisamos de whiskey, oh, você sabe por que

25/12/2007

POST DE NATAL

Numa manhã de Natal, nada como o genial Bukowski

CONVERSA ÀS TRES E MEIA DA MADRUGADA

às três e meia da madrugada
a porta se abre
e há passos na entrada
que trazem um corpo,
e uma batida
e você repousa a cerveja
e vai ver quem é.

com os diabos, ela diz,
você não dorme nunca?

e ela entra
com o cabelo nos rolinhos
e num robe de seda
estampado de coelho e passarinho

e ela trouxe a sua própria garrafa
à qual você gloriosamente acrescenta
2 copos;
o marido, ela diz, está na Flórida
e a irmã manda dinheiro e vestidos para ela,
e ela tem procurado emprego
nos últimos 32 dias.

você diz a ela
que é um cambista de jóquei e
um compositor de jazz e canções românticas,
e depois de uns dois copos
ela não se preocupa com cobrir
as pernas
com a beira do robe
que está sempre caindo.

não são pernas nada feias,
na verdade são pernas ótimas,
e logo você está beijando uma
cabeça cheia de rolinhos,

e os coelhos estão começando a
piscar, e a Flórida é longe, e ela diz
que não somos realmente estranhos
porque ela tem me visto na entrada.

e finalmente
há muito pouca coisa
para dizer.

22/12/2007

DESABAFO

Estou cansado (verdadeiramente cansado) de entender razões alheias sem que ninguém entenda as minhas.

12/12/2007

MANO CHAO




Mi vida, lucerito sin vela,
mi sangre de la herida,
no me hagas sufrir más.
Mi vida, bala perdida
por la gran vía, charquito de arrabal.
no quiero que te vayas,
no quiero que te alejes cada día más y más.
Mi vida, lucerito sin vela (aquí no pegamos los ojos)
mi vida, charquito d'agua turbia,
burbuja de jabón,
mi último refugio, mi última ilusión,
no quiero que te vayas cada día más y más.
Mi vida, lucerito sin vela,
mi sangre de la herida,
no me hagas sufrir más.
(aquí no pegamos los ojos, aquí no pegamos los ojos)
Mi vida

08/12/2007

MURILO MENDES

Pré-história

Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.

03/12/2007

Aqui tem um bando de louco...

"Sim, foi que nem um temporal
Foi um vaso de cristal
Que partiu dentro de mim"
Chico Buarque e Francis Hime


Meu time caiu para a Segunda Divisão. Um tanto de dor e um tanto de amor nesse drink amargo de domingo.
Meu time caiu para a Segunda Divisão. Não chorei, a dor calou minhas lágrimas e o silêncio encheu a sala de casa, uma da milhares de casas quietas no fim de tarde deste 02/12/07.
Meu time caiu para a Segunda Divisão. Queda esperada. Time ruim. Clube por tempos acéfalo. Meninos que corriam assustados.
Meu time caiu... mas me orgulho de ser Corinthiano.
Cantamos, sonhamos, rezamos. Perdemos. Mas a Elis não dizia há décadas que "nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar"?
Tenho orgulho de ser Corinthiano. Nunca desistir de acreditar, de sonhar, de sorrir. Tenho orgulho de ser parte de um time do povo. Nem playboys nem mauricinhos, somos gente do Povo. Da periferia. Ou como cantam pejorativamente os adversários: da Favela (como se isso fosse demérito!).
Somos aquele tipo de gente que aguentou as gozações no trabalho, enquanto abria a marmita no almoço, ou na fila do ônibus - interminável fila - enquanto o ônibus demorava para chegar lotado, cuspindo gente pelas bordas. Somos aqueles que com o coração dilacerado de dor e tristeza, humilhado por gozações, tivemos forças para abrir um sorriso e dizer com fé em São Jorge: "ano que vem melhora".
"Ano que vem melhora..." E não é isso que espera o brasileiro ano a ano, crise à crise, disfarçando o nó na garganta, disfarçando o salário mirrado para comprar brinquedo para o filho, disfarçando a dor de todo um ano para três dias e meio de um Carnaval que sempre acaba em Cinzas?
Nas arquibancadas, o Corinthiano cantava para sí mesmo, pois ele É o time. O time de "maloqueiro e sofredor" que sofre, chora e sonha. Mas tem orgulho de suas raízes e da matéria bruta com que ele é feito: suor, esforço, garra.
Num canto, a torcida pede: "vamos, vamos meu Timão, não pára de lutar", pois ela (Torcida) nunca parará sua luta na fábrica, na periferia, na lotação, na agência de emprego, no cotidiano, na vida,
na Série B da vida.
"Aqui tem um bando de loucos, loucos por ti Corinthians..."

EDNALDO TORRES FELÍCIO
03/12/2007

02/12/2007

Salve Jorge




Oração a São Jorge

Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós. Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo.

São Jorge Rogai por Nós.


Meu São Jorge, ajudai o Timão...

30/11/2007

trecho do livro Sempre Zen, da Monja Coen



' Uma Monja foi visitar a Mestra num Mosteiro. A Mestra olhou diretamente para ela e disse: "Por que você trouxe toda essa multidão com você?". A Monja, que estava sozinha, olhou para trás. A Mestra disse: "Não olhe para trás, olhe para dentro".

Será que estamos sós? Será que levamos conosco multidões? Há quem venha com os seres amados. Há quem ande com os que mais detesta para todos os lados.

Não podemos ficar olhando para trás. Dizem que quem olha para trás bate com a cara no poste. E não é assim mesmo? Costumamos olhar para o que já fizemos, ficamos remoendo situações, eventos, o que falamos ou deixamos de falar em certo momento. É preciso ficar livre.'

JOÃO CABRAL DE MELLO NETO - Morte e Vida Severina



ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO
UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE "Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUEM MATEI NÃO!"


— A quem estais carregando,
irmãos das almas,
embrulhado nessa rede?
dizei que eu saiba.

— A um defunto de nada,
irmão das almas,
que há muitas horas viaja
à sua morada.

— E sabeis quem era ele,
irmãos das almas,
sabeis como ele se chama
ou se chamava?

— Severino Lavrador,
irmão das almas,
Severino Lavrador,
mas já não lavra.

— E de onde que o estais trazendo,
irmãos das almas,
onde foi que começou
vossa jornada?

— Onde a caatinga é mais seca,
irmão das almas,
onde uma terra que não dá
nem planta brava.

— E foi morrida essa morte,
irmãos das almas,
essa foi morte morrida
ou foi matada?

— Até que não foi morrida,
irmão das almas,
esta foi morte matada,
numa emboscada.

— E o que guardava a emboscada,
irmão das almas
e com que foi que o mataram,
com faca ou bala?

— Este foi morto de bala,
irmão das almas,
mas garantido é de bala,
mais longe vara.

— E quem foi que o emboscou,
irmãos das almas,
quem contra ele soltou
essa ave-bala?

— Ali é difícil dizer,
irmão das almas,
sempre há uma bala voando
desocupada.

— E o que havia ele feito
irmãos das almas,
e o que havia ele feito
contra a tal pássara?

— Ter um hectares de terra,
irmão das almas,
de pedra e areia lavada
que cultivava.

— Mas que roças que ele tinha,
irmãos das almas
que podia ele plantar
na pedra avara?

— Nos magros lábios de areia,
irmão das almas,
os intervalos das pedras,
plantava palha.

— E era grande sua lavoura,
irmãos das almas,
lavoura de muitas covas,
tão cobiçada?

— Tinha somente dez quadras,
irmão das almas,
todas nos ombros da serra,
nenhuma várzea.

— Mas então por que o mataram,
irmãos das almas,
mas então por que o mataram
com espingarda?

— Queria mais espalhar-se,
irmão das almas,
queria voar mais livre
essa ave-bala.

— E agora o que passará,
irmãos das almas,
o que é que acontecerá
contra a espingarda?

— Mais campo tem para soltar,
irmão das almas,
tem mais onde fazer voar
as filhas-bala.

— E onde o levais a enterrar,
irmãos das almas,
com a semente do chumbo
que tem guardada?

— Ao cemitério de Torres,
irmão das almas,
que hoje se diz Toritama,
de madrugada.

— E poderei ajudar,
irmãos das almas?
vou passar por Toritama,
é minha estrada.

— Bem que poderá ajudar,
irmão das almas,
é irmão das almas quem ouve
nossa chamada.

— E um de nós pode voltar,
irmão das almas,
pode voltar daqui mesmo
para sua casa.

— Vou eu que a viagem é longa,
irmãos das almas,
é muito longa a viagem
e a serra é alta.

— Mais sorte tem o defunto
irmãos das almas,
pois já não fará na volta
a caminhada.

— Toritama não cai longe,
irmãos das almas,
seremos no campo santo
de madrugada.

— Partamos enquanto é noite
irmãos das almas,
que é o melhor lençol dos mortos
noite fechada.


SALVADOR DALI

NAVEGAR É PRECISO, VIVER, NÃO É PRECISO...
fernando pessoa
enquanto me preparo para viajar de barco com minha família em dezembro...

29/11/2007

FERNANDO PESSOA

Eros e Psique

...E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto
Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio Na Ordem Templária De Portugal)

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

********************************************************************************

postagem dedicada à minha amiga Nana

28/11/2007

DECLARAÇÃO DE AMOR NUM MOMENTO DIFÍCIL


Eu nunca vou te abandonar(pq eu te amo)
Eu nunca vou te abandonar(pq eu te amo)
Eu sooooooooooooou CORINTHIANS!!!
Eu sooooooooooooou CORINTHIANS!!!

Eu nunca vou te abandonar(pq eu te amo)
Eu nunca vou te abandonar(pq eu te amo)
Eu sooooooooooooou CORINTHIANS!!!
Eu sooooooooooooou CORINTHIANS!!!

Eu nunca vou te abandonar(pq eu te amo)
Eu nunca vou te abandonar(pq eu te amo)
Eu sooooooooooooou CORINTHIANS!!!
Eu sooooooooooooou CORINTHIANS!!!

Eu nunca vou te abandonar(pq eu te amo)
Eu nunca vou te abandonar(pq eu te amo)
Eu sooooooooooooou CORINTHIANS!!!
Eu sooooooooooooou CORINTHIANS!!!
TUAS VISITAS AINDA QUE ANÔMIMAS
TORNAM ESTE, O BLOG MAIS FELIZ DA INTERNET...

Filha e cão

Frio gostoso
A menina dorme
o cachorro com ela
enquanto o vento, curioso,
tudo espia, da janela.


Para minha filha Ana Beatriz e nosso cão


EDNALDO TORRES FELÍCIO
29/11/07

23/11/2007

19/11/2007

VINICIUS

A volta da mulher morena


Meus amigos, meus irmãos, cegai os olhos da mulher morena
Que os olhos da mulher morena estão me envolvendo
E estão me despertando de noite.
Meus amigos, meus irmãos, cortai os lábios da mulher morena
Eles são maduros e úmidos e inquietos
E sabem tirar a volúpia de todos os frios.
Meus amigos, meus irmãos, e vós que amais a poesia da minha alma
Cortai os peitos da mulher morena
Que os peitos da mulher morena sufocam o meu sono
E trazem cores tristes para os meus olhos.
Jovem camponesa que me namoras quando eu passo nas tardes
Traze-me para o contato casto de tuas vestes
Salva-me dos braços da mulher morena
Eles são lassos, ficam estendidos imóveis ao longo de mim
São como raízes recendendo resina fresca
São como dois silêncios que me paralisam.
Aventureira do Rio da Vida, compra o meu corpo da mulher morena
Livra-me do seu ventre como a campina matinal
Livra-me do seu dorso como a água escorrendo fria.
Branca avozinha dos caminhos, reza para ir embora a mulher morena
Reza para murcharem as pernas da mulher morena
Reza para a velhice roer dentro da mulher morena
Que a mulher morena está encurvando os meus ombros
E está trazendo tosse má para o meu peito.
Meus amigos, meus irmãos, e vós todos que guardais ainda meus [últimos cantos
Dai morte cruel à mulher morena!

08/11/2007

100 100 Tido

verde
chuva
remoto controle
registro geral
grosseria
preguiça
telefone
ócio
100 k minho
100 100 tido

resumo do dia 08/11/07

26/10/2007

A PORTA MÁGICA

Você tem força para abri-la?
Coragem para empurrá-la?
Despudor para ultrapassá-la?

Ela convida
Ela te convida
Mas te intimida.

Você tem mãos que abrem maçanetas?
Você tem pés que caminham no escuro?
Você tem mente que suporta o delírio?

Ela convida
Ela te convida
Mas te intimida.

Você tem olhos despertos?
Você tem asas impermeáveis?
Você tem doces estorvos?

Ela convida
Ela te convida
Mas te intimida.

As paredes se afastam
(coxas grossas mostrando o sexo)
Você diamantes na ponta dos dedos?

Ela convida
Ela te convida
Mas te intimida.

EDNALDO TORRES FELÍCIO
madrugada de 26/10/07

18/10/2007

Álvaro de Campos

Começo a conhecer-me. Não existo.
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.

Questão matinal

Os que passam pela rua, apressados
procurando comida no trabalho
se escondendo de seus sonhos, estão certos?

Ou certos estamos nós, bailarina,
que comemos sonhos
e passamos fome?

EDNALDO TORRES FELÍCIO
18/10/07
04:00hs

15/10/2007

Ecos - Floyd

Lá no alto o albatróz pára imóvel no ar
E bem debaixo de ondas agitadas
Em labirintos das cavernas de corais
O eco de uma maré distante
Vem projetar-se sobre a areia
E tudo é verde e submarino
E ninguém nos apresentou á terra
E ninguém sabe o “onde” e o “por quê”
Porém alguma coisa encara
Alguma coisa tenta
E começa a escalar em direção a luz

Estranhos que passam na rua
Por ventura dois olhares separados se encontram
E eu sou você e o que eu vejo sou eu
E eu pego você pela mão
E te conduzo pela terra
E ajude-me a entender o melhor possível
E ninguém nos chama para a terra
E ninguém passa por lá vivo
E ninguém fala
E ninguém tenta
E ninguém voa ao redor do sol

E agora este é o dia da sua queda
Sobre meus olhos acordados
Convidando e me incitando a levantar
E através da janela na parede
Atravessam em raios de luz solar
Um milhão de embaixadores brilhantes da manhã
E ninguém canta para mim canções de ninar
E ninguém me faz fechar os olhos
Por isso eu abro as janelas totalmente.

RUÍNAS

Minha depressão foi uma erupção vulcânica que deixou meu espírito em ruínas.
Ainda não sei o que fazer com elas.
Confesso estar perdido.
Para onde olho, vejo devastação. Vejo escombros. Teriam alicerces???
O magma queimou tudo, derrubou tudo, devastou tudo. Em volta de mim (do que restei) sobrou caos.
Minha depressão foi uma erupção vulcânica que deixou meu espírito em ruínas.
Aprendi, contudo, que os terrenos formados por erupções são férteis. O trauma do desastre passará e reconstruirei... algo. Não importa o que, agora.
Agora, é hora de juntar pedras.

13/10/2007

Dica de vídeo: A CONCEPÇÃO


Essas são imagens do excelente fime A CONCEPÇÃO.
O filme me lembrou o papo com um colega sobre ATENTADOS POÉTICOS. Sim, o filme propões atentados poéticos contra a sociedade. Um grupo de amigos conhece um cara chamado "X" e com ele criam um movimento chamado CONCEPCIONISTA, que na real, é um grupo de amigos que transam entre si, se drogam de todas as formas e aplicam golpes na sociedade, iludindo-a e mostrando sua pobreza intelectual. O filme tem cenas de SUPER 8 muito legais. Você vai se lembrar de LARANJA MECÂNICA, CLUBE DA LUTA e TRANSPOTING mas numa abordagem tupiniquim.
O filme aborda bem a despretensão da nossa geração que se consome como uma cobra engolindo outra cobra, ou uma droga consumindo outra droga. ("O movimento não era pra ser sério" - diz uma personagem)
Filme que te faz pensar não é pra qualquer um. Tem cenas de nudez e consumo de drogas. Se você se choca com isso não veja, se você acha que a verdade crua cheira carne de açougue, veja.
Vi e gostei.

Corinthians e a quebra do jejum

Sou do povo faço parte dele.
Osmar Prado narrou depois do jogo de 77: "A cidade é do povo."
Cara, isso é Corinthians. Uma torcida que cresceu apesar dos anos sem título.
É uma das 2 maiores do País, uma das maiores do mundo.
Um time com história.
Uma diretoria ladra e corrupta não pode manchar tudo isso.
Sei que tem gente aqui que não quer discutir FUTEBOL, quer apenas falar que sua torcida é mais bonita e tal... Mas indescutívelmente, o CORINTHIANS tem uma hist´roria linda no futebol Brasileiro, seja na DEMOCRACIA CORINTHIANA (em plena ditadura!), seja em 77, seja em 90...
É uma história linda que Dualibs não mancharão!
O Corinthians não é o único time grande do Brasil, mas sem ele a história do futebol brasileiro seria menos bela.
Todo mundo aqui tem uma história com seu time. Eis a minha:
Eu sentava na sala com meu pai para ouvir jogos no rádio ou ver na TV. A gente não morava em Sampa pra ver o Timão no campo.
Meu pai fiava o bigode durante as partidas, a gente torcia junto.
Meu pai fez promessa e só cortou o cabelo quando o Timão foi campeão (ele tinha cabelos enormes). Eu era muuuuito novo e lembro do meu pai chorando quando acabou o jogo. Não lembro de mais nada.
Depos, eu fiz 6 anos e mau pai me deu de presente um uniforme do Timão. Lembro como se fosse hoje.
Aí, veio a DEMOCRACIA com CASÃO E DR SÓCRATES.
Aí, veio o NETO e o MARCELINHO
Aí, veio o TEVEZ.
Minha filha nasceu em 96, ano que fomos campeõs brasileiros.
Hoje, ela vai aos jogos comigo. Nós sentamos no Pacaembú e gritamos e torcemos.
São três gerações. Um só amor.
CORINTHIANS MINHA VIDA, CORINTHIANS MINHA HISTÓRIA, CORINTHIANS MEU AMOR...

12/10/2007

MÔNICA VELOSO

li uma ótima definição para a dama que posou pra Playboy e FUDEU o Senador:

"Essa vaca não merece uma única punheta de qualquer brasileiro."

e tenho dito!

11/10/2007

Intermitente

Daqui a pouco o dia amanhece.
Não estou sentindo sono.
Acho um saco ter que ir trabalhar amanhã e forjar um riso que não vem de dentro de mim.
Não tenho paciência para falar com ninguém.
Gostaria de me esconder de mim mesmo e nunca mais me achar.
Não há lógica em passar o dia e a noite trancafiado dentro deste apartamento.
Intermitente. É assim que tem sido meu humor. Intermitente. Ao mesmo tempo em que não quero sair da vida, não vejo razões lógicas para continuar nela.
O sol já vai nascer. Ele desafia. Filho da puta, ele desafia a gente a sair de casa. Nessa semana, perdi todos os dias. Só saí quando fui obrigado e ainda assim sai pouco, rápido e ineficiente. Perdi a aposta com o sol. Ele brilhou e eu fiquei no escuro. BEM QUE PODIA ESCURECER E CAIR UMA TEMPESTADE SOBRE A CIDADE!
Estou trocando o dia pela noite. Na noite é mais fácil de se esconder. Tem sombras, tem silêncio, tem morcegos e mendigos sujos. De dia, tem o stress massacrante, gravatas correndo por todo o lado, saltos altos pisando em subalternos, empregados que se jogariam pela janela se não tivessem que pagar contas no final do mês.
O sol já vai nascer. Se ele tocar minha pele, viro cinzas. AI, COMO ISSO SERIA BOM!

08/10/2007

CIVILIDADE

Moro em São Paulo. A maior metrópole do País. Uma das maiores do mundo.
Aqui tem teatro, tem cinema. Grandes restaurantes e botecos deliciosos. Tem Universidades importantes, tem Indústrias, tem escritórios... Tem quase tudo! Menos civilidade.
Não há gentileza nem cordialidade entre as pessoas.
Há pressa. Há cobiça. Há disputa.
Não há humanidade.
As pessoas não têm rostos, nem nomes, nem vizinhos, nem amigos. Têm posse. Têm ânsia por possuir mais. Têm fome de poder, mas não podem sentir fome, pois não há tempo. (comam sanduiches, Colonizados!)
O Rolex passa do pulso do apresentador para o poço do crime. Há pressa para chegar ao trabalho, há cobiça por mais glória, há disputa por mais ostentação, não há Humanidade no trato entre as pessoas.
O burguês maltrata o periférico cidadão, que inveja o burguês central. Ambos só se encontram no farol. Entre eles um rolex... e uma arma. Entre eles um abismo triste. Não percebem que são faces da mesma moeda esfacelada que virou nosa cidade.
Não há tempo para percepções, há pressa para acumular mais, há cobiça pela conquista alheia, há disputa pelo sonho dourado que o consumismo promete. Não há Humanidade nem Santidade numa São Paulo descrente de si mesma.

"Somos milhões de transatlânticos falidos em pleno mar da tranquilidade"
Zé Ramalho



ednaldo torres felício
09/10/2007

05/10/2007

NUIT - Raul Seixas

"E quão longa é a noite eterna do tempo
se comparada ao curto sonho da vida..."

Barraca de Beijos

Barraca de Beijos
Para Isabela

beijos doces
à granel.
A senhorita compra um
e ganha o céu...

beijos doces...
vai um mocinha?
mulher bonita não paga...
mas se embriaga...

EDNALDO TORRES FELÍCIO

02/10/2007

POST IMPORTANTÍSSIMO


O site Free Burma! está convocando para um protesto internacional na 5a feira, via internet, em apoio ao movimento popular em Mianmar (Burma) e contra a violência com que os protestos do povo estao sendo reprimidos. Será o International Bloggers' Day for Burma, quando blogs ao redor do mundo publicarao apenas 1 post - uma das imagens da campanha e o slogan 'One blogpost for Burma'. Veja a lista de quem ja aderiu aqui - sao mais de 1,200 nomes. Veja as imagens para serem publicadas aqui. (fonte Blue Bus)
Sou o nro 2885

24/09/2007

'Eu poderia ter tido classe. Eu poderia ter sido um lutador. Eu poderia ter sido alguém, ao invés do vagabundo que sou'
Marlon Brando, em Sindicato dos Ladrões

e a chuva promete não deixar vestígios... 4 da matina, insone

Titulo da Música: Check Up
Artista:Raul Seixas
Letra:

Acabei de dar um check up
na situação
o que me levou a re-ler Alice no País das Maravilhas
Ja chupei a laranja mecânica
e lhe digo mais
Plantei a casca na minha cabeça
Acabei de tomar meu Diempax, meu Valium 10 e outras pílulas mais.
Duas horas da manha, recebo nos peito um Triptanol 25 e vou dormir quase em paz.

E a chuva promete nao deixar vestigio.
E a chuva promete nao deixar vestigio.
E a chuva promete nao deixar vestigio...

14/09/2007

BUKOWSKI - O BÊBADO GENIAL

SPLASH

A ilusão é de que você está simplesmente
lendo este poema
a realidade é que isto é
mais que um
poema.
isto é o canivete de um mendigo
isto é uma tulipa
isto é um soldado marchando
através de Madrid.
isto é você em seu próprio
leito de morte
isto é Li Po rindo
lá embaixo
isto não é a porra de um
poema.
isto é um cavalo adormecido
uma borboleta em
sua mente
isto é o circo do
demônio
você não está lendo isto
numa folha
a folha está lendo
você
pode sentir?
é como uma serpente. é uma águia esfomeada rodando pela sala

isto não é um poema. poemas são chatos
fazem você dormir

estas palavras forçam você
a uma nova
loucura

você foi abençoado, você foi atirado em uma
cegante área de
luz

o elefante sonha
com você
agora
a curva do espaço
se dobra e
gargalha

você pode morrer agora
você pode morrer agora como
todas as pessoas deveriam
morrer:
grandes,
vitoriosas,
escutando a música,
sendo a música,
retumbando,
retumbando,
retumbando.

12/09/2007

6 e quinze da matina de uma quarta feira qualquer

Às vezes, sinto uma vontade enorme de me matar. Vontade tão intensa quanto a vontade de tomar um sorvete.
Acabo não satisfazendo nenhuma vontade nem outra.
Mas juro que por vezes imagino a lâmina da faca cortando meu pescoço.
Não me sinto motivado para nada, nem mesmo para o suicídio, quanto mais para a vida. Isso me incomoda.
Meu casamento é frio. Serão todos casamentos frios?
Sinto como se meu peito se enchesse de nuvem escura. Núvem de desassossego, núvem de tempestade que nunca cai, só esconde o sol. Quem dera ao menos chovesse em mim!!!
Hoje levantarei e visitarei meus clientes com a mesma alegria que um robô sente ao ser ligado para cumprir seu papel em qualquer linha de montagem, hoje passearei com o cão e cuidadrei do peixe (maldito peixe que não come!), hoje me arrastaree pelo dia sem objetivo traçado. Hoje vagarei errante pelas horas. E de noite não sentirei alegria nem tristeza. Nem medo, nem recompensa.
Tenho vontade de cortar os pulsos, de marcar a pele com a faca. Fazer cortes fundos no braço, no peito, no pescoço. Mas não tenho coragem. Não tenho saco de me cortar e ter que limpar o sangue.
Tenho pensado em colocar a cabeça no forno e ligar o gás. Funciona? Demora pra morrer?
Não quero sentir o mal estar que senti quando tentei me asfixiar, é ruim, tão ruim que você acaba desistindo.
Gostaria de algo rápido. Algo me me fizesse simplesmente desaparecer.
Vupt! Acabou...

10/09/2007

Belinha

Dizem que sempre falta uma palavra e é verdade. Nesses anos todos eu sei que sim, que sempre falta uma palavra, é verdade. Verdade. Pois procurei por Belinha, depois de 50 anos, 50 anos, para dizer para ela essa palavra. Sempre falta uma palavra, verdade verdadeira. E eu fui para dizer para Belinha essa palavra.

Vesti meu terno, pus o chapéu e saí. Saí, foi. Como nos tempos em que era moço, feliz. Nos tempos em que me apaixonei por ela. Eu nunca pensei que um amor assim pudesse me deixar perdido, quase louco. Amor grande. Amor para sempre. Pois é. Vesti meu terno, pus o chapéu e peguei um ônibus até Santo Amaro. Sentou-se uma moça ao meu lado e era uma moça bonita. Ah, e o perfume era muito bom e eu conversei com ela, conversei muito com ela, muito, até chegar à casa pr'onde eu ia. A casa que vi construída. Que vi, tijolo por tijolo. Eu nunca morei nela, mas era lá que Belinha morava, casada com outro. Que teve filhos e teve netos. Que vive hoje sozinha e que nem sabe que eu vou lá, entrar naquela casa, que vou dizer o que tenho pra dizer, depois de 50, 50 anos, que sempre falta uma palavra. Uma única palavra, que vou levando com meu terno e meu chapéu. E uma agonia no coração, profunda. Profunda. Que sempre falta uma palavra. Era agora.

Desci no mesmo ponto e o ônibus se foi. E o bonde se foi, não tem mais. Nem a paz daquela rua. Só reconheço a esquina em que eu ficava, no bar, entre um café e outro, a ver a felicidade de Belinha, a casa agitada, os filhos pela calçada. Dei balas e brinquedos para eles, escondido, que ela nunca me via. Ficou um mistério, foi. Mas, no fundo, no fundo, Belinha sabia quem era. Eu tenho certeza, não me engano. Ela sabia que eu é que dava balas e brinquedos, escondido, nunca a abandonei, nunca deixei a vida dela sozinha. Que meu amor era eterno. Mas hoje ela vai ficar sabendo de uma vez. Eu vou dizer a palavra que eu guardei, que ficou engasgada durante 50, 50, 50 anos. Nos olhos de Belinha, é. Pra ela saber. Saber de uma vez o que eu quero dizer, depois de 50 anos.

O portão é amarelo, meio aberto. Há cheiro de jasmim, o mesmo cheiro, Meu Deus. A parede é amarela e meio aberta. A mesma parede. Eu fui invadindo, decidido como nunca. Mas eu sempre fui decidido. Fui moço forte, fibrento, de briga. No trabalho e na vida. Meu pai era assim e me ensinou. Mas o problema, posso dizer: foi ela. Belinha me deixou lento, sem força nenhuma. Sem decisão pra resolver aquela situação. Eu a amava tanto, ela me amava tanto e casou com outro. Na minha cara, na frente do meu nariz. Casou por vingança, não sei. Por dinheiro, não sei. Por indecisão. Porque quis fazer outro destino. Foi o fim, o começo do meu desasossego. Fiquei inseguro, fraco, acabado de tudo. Meu fim, tão moço que era. Minha morte no mundo.

Bati frato na porta, assim. Fraco. Mas não demorou muito para eu pensar em bater com todos os meus nervos na porta. E sacudir o nome dela. E tirar o chapéu porque eu havia suado muito. Um sol de muito tempo. Um sol antigo. Meu chapéu é quente. Meu chapéu e meu terno. O mesmo terno quente.

Disse o seu nome lá pra dentro. A casa escura, sem abrir. "Belinha", como sempre tive vontade de dizer. Não gritei, só disse. Estava ali para dizer a palavra que faltava, que sempre falta uma palavra depois de 50, mais de 50 anos.

Ela, ela.

Ela veio rastejando até a porta. Rastejando a sombra dos chinelos. Cansada e sozinha que ela estava. Veio e me olhou. Demorou olhando para mim. Olhou, olhou e me viu. O mesmo chapéu e o mesmo terno e o mesmo sol. Foi aí que Belinha me abraçou, abraçou. Meu Deus, Belinha me abraçou, me fechou naquela casa. Trancou. E era agora como nunca foi. Como nunca mais será. Uma palavra que ficou em mim, envelhecida e tratata. Pois é. Tratada como num coração de formol. De forma que resolvi dizê-la, ali mesmo da porta, sem entrar, não entrei, não sei, a mesma porta amarela, o mesmo jasmim, o mesmo jardim. Porque sempre falta uma palavra, depois de 40, 50, 60 anos, não sei. Sempre faltará uma palavra.

Ela disse que ouviu dizer de minha vida, sim. De mulheres, de famílias. Mentira. Que eu tive filhos. Mentira. Que eu tentei me matar. Mentira. Mesmo a morte eu esperava morrer com ela. Todo tempo havia esperança, havia. Esperança. Eu tinha pressa, depois de 50 anos eu tinha pressa. Ela me mandou sentar, tomar um café. Não quis. Passou a vontade, como passageira. Esperou eu falar. Pois é. E só depois de 50 anos, 50 anos ou mais, olhando para o fundo da boca, das mãos, dos olhos dela, no mesmo portão, porta amarela, com o cheiro de jasmim, eu disse a palavra, a palavra que faltava, que sempre falta uma palavra.

Falta.

outubro, 2005
Marcelino Freire nasceu em Sertânia-PE, no ano de 1967. Vive em São Paulo, vindo do Recife, desde 1991. É autor, entre outros, dos livros eraOdito (aforismos, 2ª edição, 2002) e BaléRalé (contos, 2003), ambos publicados pela Ateliê Editorial. Em 2004, idealizou e organizou a antologia Os cem menores contos brasileiros do século. Em 2005, lançou Contos Negreiros, seu primeiro livro pela editora Record. O conto "Belinha", acima, foi extraído do livro Angu de sangue (contos, 2000), também publicado pela Ateliê Editorial. Mais informações sobre autor e obra no eraOdito e aqui.

23/08/2007

Raul Seixas

Ontem, dia 21 de agosto, foi o dia da Saudade. Num dia 21 de agosto, Raul morreu. Celebramos essa data homenageando o maluco com uma passeata pelas ruas de Sampa, cantando suas canções e celebrando sua memória.
Postarei aqui uma homenagem. Raul foi o cara que mais influenciou minha juventude.
Viva Raul Seixas!!!

Magia de Amor
(Raul Seixas)

Me fascina tua morte mal morrida
E tua luta prá ficar em tal estado
E teu beijo, tão fatal, nunca me assusta
Pois existe um fim pelo sangue derramado

Me fascinam os teus olhos quando brilham
Pouco antes de escolher quem te seduz
E me fascinam os teus medos absurdos
A estaca, o alho, o fogo, o sol, a cruz

Me fascina a tua força, muito embora
Não consiga resistir à frágil aurora
E tua capa, de uma escuridão sem mácula

Me fascinam os teus dentes assustadores
E teus séculos de lendas e de horrores
E a nobreza do teu nome, Conde Drácula

17/08/2007

Auto-aviso

Não deixe que ela (sim, aquela que representa seu passado, a dor no peito, a forca no pescoço e o nó na garganta) estragar teus dias imediatamente vindouros.

Não deixer que ela estrague teu minuto seguinte.

Ela não vale isso.

Ela não vale nada.

Não deixe que ela te vença. Não deixe que ela faça com que você se sinta um maldito cruel. Você não é. Você não é. Você não é.

Não deixe que seu pensamento caia nela. Ela não merece sequer isso.

Ela te fudeu. Ela se fudeu. Ela que continue se fudendo.

Você, que continue lutando contra tua depressão. Sem se sentir vítima de nada, nem culpado por nada. AS COISAS SÃO. O QUE FICOU PARA TRAS ESTÁ ESCRITO! É HORA DE ESCREVER PARA FRENTE e nas páginas seguintes, ela não será citada.

Ela que fique no passado que é o lugar dela, amarelando como a foto no armário.

TODO CONTATO COM ELA É PERIGOSO.

Ela quer afastar você do que você mais ama.

Ela não vai conseguir, pois você não lhe dará espaço.

Ela foi um vício. Hoje é apenas incômodo.

Ok?

07/08/2007

Como estou agora...

A música do Chico, copiada abaixo, fala do momento que estou vivendo agora.
São estes conselhos que quero seguir para me (re)encontrar e (re)conquistar meus objetivos, ainda que, por enquanto eu não saiba ao certo qual(quais) é(são).
Está difícil, mas EU VOU CONSEGUIR SER O QUE SEMPRE FUI!!!!!!!
;-)

Espero que frases como "Está provado, quem espera NUNCA alcança" soem às almas de vocês, como soa à minha.

P.S.: Três posts seguidos com músicas do Chico... Talvez eu esteja um tanto Chicólatra, mas afinal...

BOM CONSELHO

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado ou você se cansa
Está provado que quem espera nunca alcança.

Venha meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com o seu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes
Antes de pensar
Vou atrás de tudo
Vindo não sei de onde
Devagar é que não se vai longe.

Eu ouço bem o vento
Na minha cidade
Vou para a rua
E bebo a tempestade

Vou para a rua
E bebo a tempestade

Para Marlene e Vágner

Essa música, o Chico Buarque fez para a Zuzú Angel, quando ela perdeu o filho assassinado pela ditadura.
Tenho uma cunhada que perdeu um filho com leucemia há uns 10 anos e nunca mais se recuperou. Sua vida perdeu o sentido e ela espera tristemente a própria morte. É talvez, a pesoa mais triste que eu conheço.
Ela nunca lerá esse blog e nem saberá que ao escutar essa música do Chico Buarque lembrei dela e lamentei pela morte de meu sobrinho e de minha cunhada, sabendo que a morte dela é pior, pois é uma morte em vida.

Pedaço de mim
Chico Buarque/1977-1978

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

O QUE SERÁ? (À FLOR DA TERRA)

O que será que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que anda nas cabeças, anda nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
Que gritam nos mercados, que com certeza
Está na natureza, será que será
O que não tem certeza nem nunca terá
O que não tem conserto nem nunca terá
O que não tem tamanho

O que será que será
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Que está na romaria dos mutilados
Que está na fantasia dos infelizes
Que está no dia-a-dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência nem nunca terá
O que não tem censura nem nunca terá
O que não faz sentido

O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão repicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E o mesmo Padre Eterno que nunca foi lá
Olhando aquele inferno, vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo

03/08/2007

entenderá se for você...

Meu bem, meu bem
será que você não vê,
não houve nada?
Só o passado rondando minha porta
feito alma penada...

hahahahahahahahahaha

Trecho do livro O lobo da Estepe sobre Depressão e depressivos

(...)


Outra era a de que pertencia ao grupo dos suicidas. E aqui é necessário esclarecer que não se devem considerar suicidas somente aqueles que se matam. Entre estes há suicidas que só o chegaram a ser por mero acaso, e de cuja essência do suicídio não fazem realmente parte. Entre os homens sem personalidade, sem características definidas, sem destino traçado, entre os homens incapazes e amorfos, há muitos que perecem pelo suicídio, sem por isso pertencerem ao tipo dos suicidas, ao passo que há muitos que devem ser considerados suicidas pela própria natureza de seu ser, os quais, talvez a maioria, nunca atentaram efetivamente contra a própria vida. O "suicida" - e Harry era um deles - não precisa necessariamente viver em relações particularmente intensas com a morte; isto se pode fazer sem que se seja um suicida. É próprio do suicida sentir seu eu, certo ou errado, como um germe da natureza, particularmente perigoso, problemático e daninho, que se encontrava sempre extraordinariamente exposto ao perigo, como se estivesse sobre o pico agudíssimo de um penedo onde um pequeno toque exterior ou a mais leve vacilação interna seriam suficientes para arrojá-lo no abismo. Esta classe de homens se caracteriza na trajetória de seu destino porque para eles o suicídio é a forma de morte mais verossímil, pelo menos segundo sua própria opinião. A existência dessa opinião, que quase sempre é perceptível já na primeira mocidade e acompanha esses homens durante toda sua vida, não representa, talvez, uma particular e débil força vital, mas, ao contrário, encontram-se entre os suicidas naturezas extraordinariamente tenazes, ambiciosas e até ousadas. Mas assim como há naturezas que caem em febre diante da mais ligeira indisposição, assim propendem essas naturezas a que chamamos "suicidas" e que sempre são muito mais delicadas e sensíveis à menor comoção, a entregar-se intensamente à coragem a autoridade suficientes para ocupar-se do homem, em vez de fazê-lo simplesmente no mecanismo dos fenômenos vitais, se tivéssemos uma verdadeira Antropologia, uma verdadeira Psicologia, tais fatos seriam conhecidos de todos.

O que foi dito acima a propósito dos suicidas só diz respeito obviamente à superfície; é psicologia, portanto uma parte da física. Do ponto de vista metafísico, o assunto aparece de outra forma e muito mais claro, pois, vistos assim, os "suicidas" se nos apresentam como perturbados pelo sentimento de culpa inerente aos indivíduos, essas almas que encontram o sentido de sua vida não no aperfeiçoamento e moldagem do ser, mas na dissolução, na volta à mãe, a Deus, ao Todo. Muitas dessas naturezas são inteiramente incapazes de cometer suicídio real, porque têm uma profunda consciência do pecado que isso representa. Para nós, entretanto, são, apesar disso, suicidas, pois vêem a redenção na morte e não na vida; estão dispostos a eliminar-se e a entregar-se, a extinguir-se e a voltar ao princípio.

Assim como toda força pode converter-se em fraqueza (e em certas circunstâncias deve fazê-lo, necessariamente), assim, ao contrário, o suicida típico pode fazer de sua aparente debilidade uma força e um escudo, o que acontece aliás com certa freqüência. A estes pertenciam também Harry, o Lobo da Estepe. Como milhares de seus semelhantes, fazia da idéia de que o caminho da morte estava pronto para ele a qualquer momento, não uma quimera juvenil e melancólica, mas antes encontrava nesse pensamento um apoio e um consolo. É verdade que nele, como em todos os homens de sua espécie, cada comoção, cada dor, cada desesperada situação da vida, despertava imediatamente desejo de livrar-se de tudo por meio da morte. Mas, pouco a pouco, foi transformando em seu interior essa tendência numa filosofia que era, na verdade, propensa à vida. A profunda convicção de que aquela saída de emergência estava constantemente aberta lhe dava forças, fazia-o sentira curiosidade de provar seu sentimento até às últimas instâncias. E quando se via na miséria, podia às vezes sentir com furiosa alegria uma espécie de prazer em sofrer: "Estou curioso por saber até que ponto um homem pode resistir. E quando alcançar o limite do suportável, basta abrir a porta e escapar." Há muitos suicidas que extraem força extraordinária deste pensamento.

Por outra parte, a todos os suicidas é familiar a luta contra a tentação do suicídio. Cada um deles sabe muito bem, em algum canto de sua alma, que o suicídio, embora seja uma fuga, é uma fuga mesquinha e ilegítima, e que é mais nobre e belo deixar-se abater pela vida do que por sua própria mão. Tendo consciência disso, a mórbida consciência que é praticamente a mesma daqueles satisfeitos consigo mesmos, os suicidas em sua maioria são impelidos a uma luta prolongada contra o próprio vício. O Lobo da Estepe era bastante afeito a esse tipo de luta; nela já havia combatido com várias armas. Finalmente, aos quarenta e seis anos de idade, deu com uma idéia feliz, mas não inofensiva, que lhe causava, não raro, algum deleite. Fixou a data de seu qüinquagésimo aniversário como o dia no qual se permitiria o suicídio. Nesse dia, convencionara consigo mesmo, podia usar a saída de emergência, segundo a disposição que demonstrasse. Então poderia ocorrer-lhe o que fosse, enfermidades, miséria, sofrimentos e amarguras, que tudo teria um limite, nada poderia estender-se além daqueles poucos anos, meses e dias, cujo número era cada vez menor. E na realidade suportava agora com mais facilidade males que antes o teriam atormentado profundamente, males que o teriam comovido até as raízes. Quando por qualquer motivo as coisas iam particularmente más, quando novas dores e perdas se vinham juntar à desolação, ao isolamento e ao desespero de sua vida, podia dizer aos seus algozes: "Esperai mais dois anos e eu vos dominarei." E logo se punha a imaginar o dia de seu qüinquagésimo aniversário, quando, logo pela manhã, começariam a chegar as cartas de felicitações, enquanto ele, tomando da navalha, despedir-se-ia das dores e fecharia a porta atrás de si. Então a gota das juntas, a depressão do espírito e todas as dores de cabeça e do estômago poderiam procurar outra vítima.


Herman Hesse


25/07/2007

"PATRÃO VELHO" ou "OCULTAR-SE"

"Detesta o patrão no emprego,
Sem ver que o patrão sempre esteve em você"
RAUL SEIXAS


Quantas vejas sou cruel comigo a ponto de me tornar pequeno?
Quantas vezes coloco o dedo na ferida só para ter sangue pra lamber?
E o fórceps que usei para sair do útero onde me ocultava?

Quantas vezes é água ardente que coloco em minhas chagas?
Quantas vezes é medo e ódio (misturados) o que vejo no espelho?
Quanto de mim boicota o "eu" que posso ser?

Onde, em que ponto de minha mente, está o grande censor de mim?
Onde guardo minhas imperfeições para não sabê-las humanas?

De onde Diabos, tirei a idéia de que sou Deus
e que Deus não pode errar?

Como, afinal, terminar este... (poema?) ?
É preciso mesmo terminá-lo?

...?

EDNALDO TORRES FELÍCIO
26/07/07
02:08
26/07/07

19/07/2007

MÍDIA GOLPISTA 10 X 0 LULA

MÍDIA GOLPISTA 10 X 0 LULA

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 523

. A mídia conservadora (e golpista) derrotou o Presidente Lula por 10 a zero, na queda do avião da TAM.

. O presidente Lula fala à Nação nesta sexta feira.

(Clique aqui para ler o que o Presidente Lula deve dizer)

. O Governo reagiu atrasado, quando já estava na lona.

. Não há nenhuma relação entre a crise do apagão e a queda do avião da TAM – é o que mostram os primeiros indícios.

. Os primeiros indícios revelam que: ou o avião teve um problema mecânico, ou o piloto errou.

(O Jornal Nacional – o Jornal Nacional !!! – revelou que, desde sexta feira, o avião da TAM tinha um problema no reversor .... Deve ser culpa da falta de infra-estrutura do Governo Lula ...)

. Não tem nada a ver com grooving, com chuva, com intensidade do tráfego, com o tamanho da pista – nem nada daquilo que a Miriam Leitão chama de “logística” (e a falta de, no Governo Lula).

. Porém, a mídia conservadora (e golpista) só cobre a crise aérea e o apagão da infra-estrutura.

. Os indícios ? Não interessam.

. Para a mídia conservadora (e golpista) só interessa colar no Presidente Lula e no seu Governo a marca da ineficiência.

. A mídia conservadora (e golpista) ultrapassou, na queda do avião da TAM, todos os índices de fúria golpista que atingiu na crise do mensalão.

. Talvez porque:

. 1) a popularidade do presidente Lula continue inabalada, é o que demonstrará amanhã, sexta, nova pesquisa da revista Carta Capital;

. 2) porque já está assegurado que o crescimento da economia em 2007 será superior a quatro por cento, com inflação abaixo da meta – e o mesmo se deve repetir ano que vem, segundo a pesquisa Focus, que o Banco Central promove com cem agentes financeiros PRIVADOS.

. A mídia conservadora (e golpista) só tem uma saída: derrubar o Governo Lula num golpe.

. Como ? Começa na mídia e depois se vê...

. Chama-se o embaixador Gordon ...

. E o Governo não reage.

. O Governo do presidente Lula acredita, provavelmente, que a mídia vá promover uma auto-correção.

. É melhor acreditar em Papai Noel ...

. O Presidente Lula pensa que vive numa democracia, em que a imprensa é livre.

. Livre de que ?, como se pergunta a professora Marilena Chauí.

. Aquilo de que o Presidente Lula e este Governo mais precisam é de um porta-voz.

. Franklin Martins construiu – NO VÍDEO – uma imagem de credibilidade e de tranqüilidade.

. Porém, agora, parece ter submergido às tarefas – inúteis - de Ministro: cuidar da publicidade do Governo, e montar uma TV que tem tudo para ser um exercício de boas intenções com traço de audiência.

. E na hora em que a vaca vai pro brejo, aparece um porta-voz que ninguém conhece e que gagueja.

. Francamente, um porta-voz que gagueja ...

. Com o PT, o Governo Lula já sabe que não conta.

. Por exemplo, o Senador Aloísio Mercadante se especializou em engordar a mídia conservadora (e golpista) com a denúncia de que vai haver um apagão energético – o que a Ministra Dilma Roussef nega.

. O Senador Eduardo Suplicy, do PSDB, ainda que filiado ao PT, entrou para a bancada do presidente eleito José Serra.

. O Governo Lula parece a seleção feminina de vôlei – tem seis match points na mão e não fecha o jogo ...

07/07/2007

Velho eu de agora

18 e 32 anos. Idades diferentes. A mesma solidão.
Mudou o tédio, é verdade. Hoje ele é mais ácido, mas complexo, mais triste, menos esperançoso.
Mudou também o corpo. Mais adiposo, mais marcado, mais cáustico, menos humano.
Desço a rua e não sei o que procuro. Não me encontro. Não sei se sou o garoto ou o homem maduro. (maduro?)
Tudo se resume à escuridão da noite e à procura por mais trevas. Menos vida, mais escuro. Isso não mudou nada.

Para uma mulher com quem dividi o sono e o desertar

"Nada mais lindo e misterioso do que uma mulher acordando, seus gestos, a dramaturgia, o arranque para a vida ou a inércia nos teus braços.
Os barulhos de uma mulher acordando, a música dos ossos se espreguiçando, os gerúndios tantos das ações e silêncios, o chuveiro ao longe a nos dizer tantos desejos e coisas, meu Deus, aquela água já escorre linda e faz pocinhas líricas nas saboneteiras...
Quantas dúvidas e quantas certezas acordam juntas quando uma mulher acorda."

Xico Sá

23/06/2007

"REPOSTANDO"

Fala Galera!!!

Já postei essa, mas o sempre excelente texto do Xico Sá
( http://ponteaereasp.nominimo.com.br/ ) falando sobre a Augusta me fez subir meu poemeto.
Eis aqui minhas MENINAS DA AUGUSTA

MENINAS DA AUGUSTA


Meninas na Augusta brincam de putas
Se mastigam em chicletes, tietes.

Meninas na Augusta brincam injustas
Cobram beijos e afagos, diabos!

Meninas na Augusta sob luz que ofusca
Beijinhos e bundinhas, calcinhas.

Pára um carro: passa a mão
Beija a boca, enche a cara. E vai...

Eu passo e vejo tudo,
Passeando à noite com meu cachorro e minha poesia.

Meninas da Augusta...
Putas?

Sejamos seus filhos
Repousemos tranqüilos.

E que o manto negro da Noite como chuva fina
Proteja o trabalho de nossas meninas.

Na Augusta.
Na Vida.

EDNALDO TORRES FELÍCIO
10/04/07
00:45hs


espero que tenha gostado...

abçs!

19/06/2007

essa é a história de uma menino que tinha um amigo que voava...

Este Post é para minha filha e todos os meus sobrinhos e sobrinhas.


A História de Jorge

Jorge Ben Jor

Ei, xará!
Ei, xará!
Ei, xará!

Olha,
essa é a história de uma menino
Que tinha um amigo que voava
E Jorge se chamava

Ninguém acreditava no menino que não voava
Quando ele dizia que tinha uma amigo
que falava, brincava e até voava

Todo mundo dele caçoava

Um dia, Jorge soube de tudo
E voou para toda gente ver

O espanto foi geral
E o menino que não voava feliz da vida gritava:

"Voa, Jorge!
Voa, Jorge!

Voa, Jorge, voa
Voa, Jorge, Jorge voa

Voa bem alto, Jorge
E traz uma estrela pra mim

Jorge amigo meu
Meu amigo Jorge

Jorge amigo anjo
Anjo amigo Jorge

Voa bem alto, Jorge
E traz uma estrela pra mim

Jorge amigo meu
Meu amigo Jorge!

Jorge!!!!

Voa, Jorge, Jorge voa
Voa, Jorge, Jorge voa

Ei Xará, Jorge é meu amigo!!!!!
Jorge é meu amigo que voa, Xará

Eu tenho um amigo que voa, Xará!!!!!

Olha lá meu amigo voando!!!!

Voa
Jorge voa...

Voa
Jorge voa...

************************************************************************************

Amo vocês. Que amigos 'Jorge" sempre voem pra vocês.
;-)


14/06/2007

Relatos da madruga

Relatos da madrugada

São tres, quatro da manhã? O que importa!

Minha alma está deitada dentro do meu corpo, acanhada e preguiçosa.
O apartamento todo dorme. Dorme no escuro. A única luz é a da tela. Minh´alma também está escura.

Engraçado não é ter medo do escuro, mas ter medo da luz. Engraçado é ter um metro e noventa e se sentir pequeno. Engraçado é ser vertical, andar vertical e se sentir deitado.

Quais as origens de minhas dores? Se tudo é equilíbrio por que me sinto numa corda bamba sem rede de proteção?

Quanto tempo até afastar outro amor de mim? Quanto tempo até afastar todos e lamentar a solidão? Nem meu cão me suporta. Nem meu espírito me suporta.

Tres ou quatro da matina? Quem se importa! Dorme a Rua Augusta das putas tristes, dorme Sampa dos homens tristes e eu insone nem triste nem feliz - indiferente.

"Reza, reza o rio, córrego pro rio, rio pro mar."
Caetano

Sabe, ainda vou estar em paz comigo mesmo, como já estive um dia (sim, sei que isso existe e é possível) pra escutar o prazer da água correndo pro mar, pelas pedras do rio...

20/05/2007

AVE LÚCIFER

Ave Lúcifer
MUTANTES

Composição: Arnaldo Dias Baptista - Ritta Lee Jones - Élcio Decário

As maçãs envolvem os corpos nus
Nesse rio que corre
Em veias mansas
Dentro de mim

Anjos e arcanjos
Repousam neste Éden infernal
E a flecha do selvagem
Matou mil aves no ar

Quieta, a serpente
Se enrola nos seus pés
É Lúcifer da floresta
Que tenta me abraçar

Vem amor
Que um paraíso
Num abraço amigo
Sorrirá pra nós
Sem ninguém nos ver
Prometo
Meu amor macio
Como uma flor
Cheia de mel
Pra te embriagar
Sem ningém nos ver

Tragam luvas negras
Tragam festas e flores
Tragam copos e dores
Tragam incensos e odores
Mas tragam Lúcifer pra mim
Em uma bandeja pra mim.

PABLO NERUDA

Vinte Poemas de Amor – XX

tradução de Fernando Assis Pacheco

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Pablo Neruda

02/05/2007

O ÚLTIMO ROMÂNTICO

Este post é especial para minha amiga Andreza


O Último Romântico

Lulu Santos

Composição: Lulu Santos, Antônio Cícero e Sérgio Souza

Faltava abandonar a velha escola
Tomar o mundo feito coca-cola
Fazer da minha vida sempre o meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dela o meu caminho só, único

Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse Oceano Atlântico
Só falta reunir a zona norte à zona sul
Iluminar a vida já que a morte cai do azul

Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande pra poder chorar

Me dá um beijo, então
Aperta minha mão
Tolice é viver a vida assim sem aventura
Deixa ser
Pelo coração
Se é loucura então melhor não ter razão

Só falta te querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar
Ser gente grande pra poder chorar

29/04/2007

BRIGA

Depois da pesada confusão ficou um silêncio mórbido.
Nem vencido nem vencedor.
Um cachorro assustado dormindo com medo.
A tensão muda espalhando rabiscos nas paredes e estragando os quadros.
Piano cerrado.

Da estória da briga, apenas estrias tristes na pele.
Nem um pio
nem uma prece
Nem um pranto.

Apenas silêncio aterrador
Transformando a casa
num túmulo de mortos-vivos.


EDNALDO TORRES FELÍCIO
29/04/06

Fernando Pessoa (Alvaro de Campos)

      TABACARIA

    Não sou nada.
    Nunca serei nada.
    Não posso querer ser nada.
    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

    Janelas do meu quarto,
    Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
    (E se soubessem quem é, o que saberiam?),
    Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
    Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
    Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
    Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
    Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
    Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

    Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
    Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
    E não tivesse mais irmandade com as coisas
    Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
    A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
    De dentro da minha cabeça,
    E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

    Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
    Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
    À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
    E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

    Falhei em tudo.
    Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
    A aprendizagem que me deram,
    Desci dela pela janela das traseiras da casa.
    Fui até ao campo com grandes propósitos.
    Mas lá encontrei só ervas e árvores,
    E quando havia gente era igual à outra.
    Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

    Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
    Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
    E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
    Gênio? Neste momento
    Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
    E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
    Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
    Não, não creio em mim.
    Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
    Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
    Não, nem em mim...
    Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
    Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
    Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
    Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
    E quem sabe se realizáveis,
    Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
    O mundo é para quem nasce para o conquistar
    E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
    Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
    Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
    Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
    Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
    Ainda que não more nela;
    Serei sempre o que não nasceu para isso;
    Serei sempre só o que tinha qualidades;
    Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
    E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
    E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
    Crer em mim? Não, nem em nada.
    Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
    O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
    E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
    Escravos cardíacos das estrelas,
    Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
    Mas acordamos e ele é opaco,
    Levantamo-nos e ele é alheio,
    Saímos de casa e ele é a terra inteira,
    Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

    (Come chocolates, pequena;
    Come chocolates!
    Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
    Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
    Come, pequena suja, come!
    Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
    Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
    Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

    Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
    A caligrafia rápida destes versos,
    Pórtico partido para o Impossível.
    Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
    Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
    A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
    E fico em casa sem camisa.

    (Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
    Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
    Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
    Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
    Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
    Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
    Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
    Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
    Meu coração é um balde despejado.
    Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
    A mim mesmo e não encontro nada.
    Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
    Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
    Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
    Vejo os cães que também existem,
    E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
    E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

    Vivi, estudei, amei e até cri,
    E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
    Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
    E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
    (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
    Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
    E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

    Fiz de mim o que não soube
    E o que podia fazer de mim não o fiz.
    O dominó que vesti era errado.
    Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
    Quando quis tirar a máscara,
    Estava pegada à cara.
    Quando a tirei e me vi ao espelho,
    Já tinha envelhecido.
    Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
    Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
    Como um cão tolerado pela gerência
    Por ser inofensivo
    E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

    Essência musical dos meus versos inúteis,
    Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
    E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
    Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
    Como um tapete em que um bêbado tropeça
    Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

    Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
    Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
    E com o desconforto da alma mal-entendendo.
    Ele morrerá e eu morrerei.
    Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
    A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
    Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
    E a língua em que foram escritos os versos.
    Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
    Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
    Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

    Sempre uma coisa defronte da outra,
    Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
    Sempre o impossível tão estúpido como o real,
    Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
    Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

    Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
    E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
    Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
    E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

    Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
    E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
    Sigo o fumo como uma rota própria,
    E gozo, num momento sensitivo e competente,
    A libertação de todas as especulações
    E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

    Depois deito-me para trás na cadeira
    E continuo fumando.
    Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

    (Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
    Talvez fosse feliz.)
    Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
    O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
    Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
    (O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
    Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
    Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
    Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

    Álvaro de Campos, 15-1-1928

MONSTRO

Que espécie de monstro sou eu?
Um covarde. Deveria acabar logo comigo. Me enfiar no grande breu da morte e poupar os que amo do que eu sou.
Não tenho esperanças em relação a mim.
Não tenho não tenho e não tenho.
Não melhoro. Não aprendo, não apreendo.
Quando desperto e sou realmente o que sou fico na mais completa solidão e culpa.
Perdi meus sonhos. Perdi meu caminho.
O que eu quero pra mim daqui a tres anos? Não sei...
Não sei mais o que quero pra mim nem na próxima segunda feira!
Acordo, trabalho, me exponho e não tenho objetivo.
Carrego a vergonha de ser alimentado por quem eu deveria alimentar. Carrego o peso do fracasso. 32 anos e nenhum acerto. O que construí? O que deixarei?
Passarei meteórico e não deixarei rastros, senão alguns escombros.
Tinta queimada.
Andar sem direção ou esperança de um porto seguro. Andar sem destino.
Ah, como eu queria ser sozinho e não ter chance de magoar ninguém!
Não tenho coragem de me matar nem de continuar vivo.
Alienado, muleque, monstro.
Morto-vivo.

24/04/2007

um pouco de Mário Quintana...

Saibam: eu ia postar um poema triste pra caralho do Pablo Neruda chamado: "O menino perdido". Então pensei bem: vou é publicar Quintana e sua poesia cheia de ternura. É essa ternura que lhes ofereço, meus amigos e amigas. Bjos. Xô melancolia!!! Sampa, 5 e pouco da matina...


Mário Quintana


Bilhete


Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda

18/04/2007

continuemos nossa brincadeira - 5 visões

Olá!

Já escrevemos aqui nossas 5 lembranças olfativas, auditivas e tacteis. Quais seriam as 5 lembranças visuais que levaríamos para a eternidade, se apenas 5 pudessemos levar?
Essa é difícil!
Aqui vão as 5
- Minha filha recém-nascida, bailando no berçário
- O riso da minha esposa
- Golfinhos passeando perto do barco (em especial uma mamãe e seu bebê)
- Céu estrelado em São Tomé das Letras
- O mar de noite num dia frio de inverno (puta que medo!)

E vocês? Apenas 5 lembranças, 5 cenas, 5 visões... depois... o esquecimento...
;-)

lembranças olfativas de um assassino

Olá.
Após o novo massacre nos EUA, com aquele maluco que matou gente pacas na universidade, o jornalista Roberto Cabrine, da Bandeirantes, intrevistou o "atirador do shopping" , o cara que matou gente pra cacete num cimena em São Paulo.
Lembram-se dele? Em 1999, na sala 6 do cinema do MORUMBI SHOPPING, durante a sessão do filme CLUBE DA LUTA, lá pelo meio do filme, um maluco foi ao banheiro e voltou atirando na platéia. No final ficaram 3 mortos e 4 feridos. Seriam mais, se o maluco não fosse imobilizado por outras pessoas. Hoje cumpre pena num presídio de Sampa.
Pois bem, segue uma livre transcrição de um trecho da entrevista veiculada no JORNAL DA BAND:

"CABRINE: Você viu os corpos no chão?
aSSASSINO: Eu não lembro de muita coisa daquele dia. Lembro assim... Do barulho dos tiros... e do cheiro.
CABRINE: Cheiro? Que cheiro?
aSSASSINO: (silêncio) Eu senti cheiro de pólvora, de pipoca e de sangue."

Lembrei na hora da minha/nossa brincadeira neste blog sobre memórias olfativas. Algumas belíssimas tais como "cheiro da camisa de meu pai" ou "cheiro de suor de uma noite de amor" ou ainda "cheiro do travesseiro da minha mãe", entre tantos comentários deliciosos que meus amigos dividiram conosco.
O assassino (com "a" minúsculo, ele não merece um a maiúsculo, nem mesmo seu nome citado em meu blog), o assassino lembra-se de pólvora, pipocas e sangue...
Cada um guarda na memória as lembranças que pôde reter de acordo com o que viveu.
Postei esse texto porque tenho que dizer que adimiro e sou grato a todos que escreveram suas memórias (olfativas, gustativas, tacteis e auditivas) aqui. E pra dizer que a brincadeira vai continuar. No post acima, a brincadeira será com nossas lembranças visuais. Sei que serei brincadado com mais poesias de vocês e suas lindas e geniais lembranças.
Embora seja gay pacas, não me furto a mandar um beijo na alma de todos vocês.
Obrigado por existirem em minha vida.
Reflitamos, ainda assim, sobre a "pólvora, pipoca e sangue" e torçamos para que sejam mais ricas nossas lembranças.
Beijos nas minas, abraços nos manos.

15/04/2007

MENINA DA AUGUSTA

Olá!

Faz tempo que eu não posto, né?
Pois bem, a Rua Augusta em Sampa é conhecida pela Boemia e pelas garotas de programa que trabalham noite adentro. Apesar disso, é um endereço elegante da cidade, com cinemas de arte, teatro, bares e restaurantes descolados, lojas caras e raridades, como sebos de discos, lojas especializadas em botas ou chapéus.
Todos os dias à meia noite passeio com meu cachorro por esse mundo. Fiz esse poema após voltar pro meu apartamento, numa noite dessas. Espero que vocês gostem.
;-)

MENINAS DA AUGUSTA


Meninas na Augusta brincam de putas
Se mastigam em chicletes, tietes.

Meninas na Augusta brincam injustas
Cobram beijos e afagos, diabos!

Meninas na Augusta sob luz que ofusca
Beijinhos e bundinhas, calcinhas.

Pára um carro: passa a mão
Beija a boca, enche a cara. E vai...

Eu passo e vejo tudo,
Passeando à noite com meu cachorro e minha poesia.

Meninas da Augusta...
Putas?

Sejamos seus filhos
Repousemos tranqüilos.

E que o manto negro da Noite como chuva fina
Proteja o trabalho de nossas meninas.

Na Augusta.
Na Vida.

EDNALDO TORRES FELÍCIO
10/04/07
00:45hs