26/06/2009

Um gênio bizarro

Dizem que ele morreu porque comeu uma criancinha estragada...
Enfim... Meus "bailinhos" de quando eu tinha 8, 9, 10 anos eram embalados por sons dele. Todos os meus amigos tinham um LP de "Thriller" em casa. É difícil imaginar hj o que esse cara foi nos anos oitenta... Postarei aqui dois sons dele que curto muito. Um da época do Jackson 5 e outro que curto pacas "Bellie Jean". Não consegui colocar o clipe original de Bille Jean, mas coloco uma gravação de um show em NY em 2001. Ducarai.
Acho que ele nunca foi são da cachola. Era um gênio. Um gênio bizarro.



12/06/2009

ao som de Zé Ramalho

Fugiu para o bar
Qualquer lugar era melhor do que aquela familia
Gente com auréola na cabeça
Gente que não fuma, não bebe, não fode, não erra.
Gente que coloca máscaras de plástico na face
E exibe um sorriso cordial sobre a verdadeira careta de escárnio.
Gente que se pendura na porta do céu e esmola entrada no Éden.

Fugiu pro bar.
E lá estavam os derrotados da vida:
A puta louca, sorrindo desdentada,
O negro velho, solitário com seu trago de cachaça,
O bluesman bêbado e alterado,
O idiota tomando água pensando que era cerveja...
Tudo ao som de Zé Ramalho.

O Bar era o ponto de encontro dos tristes
E dos que se mostram sem máscara.
O Bar era o olho mágico da porta do purgatório.
De lá, podiam ser vistos os coxos sociais, os sujos, os esquecidos...
E por Deus! Eles pareciam mais honrados e lindos do que a família de auréola de vidro!

Entre um trago e outro percebeu, entretanto,
Que não fazia parte de nenhum dos dois mundos daquela noite:
Nem do umbral dos rejeitados, nem da núvem frágil dos pseudo-eleitos.
Não fazia parte de mundo algum.

Deu as costas a tudo
e continuou caminhando...
Sozinho.

EDNALDO TORRES FELICIO

10/06/2009

DR. SÓCRATES BRASILEIRO DA SILVA, meu ídolo


Da REVISTA BOEMIA

Por RODRIGO BRANDÂO


http://www.revistaboemia.com.br/Pagina/Default.aspx?IDPagina=148

Recentemente, em sua coluna na Folha, o jornalista Juca Kfouri, grande incentivador da Democracia Corinthiana, arriscou uma seleção composta por jogadores inteligentes: Rogério Ceni; Paul Breitner, Elias Figueroa, Beckenbauer e Sorín; Falcão, Sócrates e Cruijff; Cazely, Tostão e Valdano.

Sócrates é posterior ao elegante e diplomático Franz Beckenbauer, tricampeão europeu com o Bayern de Munique (1974, 75 e 76), campeão mundial com a Alemanha dentro e campo (1974) e fora dela (1990). Também é posterior ao irreverente e descolado Johann Cruijff, tricampeão europeu com o Ajax (1971, 72 e 73) e cérebro da Laranja Mecânica de Rinnus Mitchells. Aliás, Cruijff e Sócrates têm algo em comum além da inteligência: jamais ganharam uma Copa, mas suas seleções encantaram o mundo.

Cronologicamente, Sócrates pertence à geração dos argentinos Daniel Passarela, Mario Kempes e Diego Maradona (na única vez em que nos encontramos numa Copa, eu ganhei, relembra), do alemão Rummenigge, do francês Michel Platini, dos italianos Dino Zoff, Bruno Conti e Roberto Bettega, do polonês Boniek, do soviético Dasaev e dos brasileiros Júnior, Falcão, Cerezo e Zico.

Mas Sócrates Brasileiro tem orgulho mesmo é de pertencer à geração de Zé Maria, Juninho, Wladimir, Biro-Biro, Zenon e Casagrande. "Nenhum ambiente, nem o de 82, me fez tão bem como o da Democracia Corinthiana. Não troco a alegria de ter sido capitão daquele Corinthians por nada". Orgulha-se ainda de integrar o time daqueles que lutaram pelas Diretas-Já, como os artistas Fafá de Belém, sua conterrânea, e Chico Buarque, as atrizes Fernanda Montenegro e Regina Duarte e os políticos Franco Montoro e Dante de Oliveira, cuja emenda em favor do movimento levava seu nome. Coincidência: o primeiro comício das Diretas-Já em São Paulo foi em frente ao estádio do Pacaembu, onde o Corinthians mandava seus jogos.

O futebol, para Sócrates, só tem importância se existe um contexto social. "As minhas vitórias políticas são infinitamente superiores às minhas vitórias como jogador profissional. Um jogo acaba em 90 minutos. A vida prossegue. E ela é real".

Em 1984, Sócrates transferiu-se para a Fiorentina. Um gesto de oposição à derrota das eleições diretas. Na Itália, sofreu com o frio e com a solidão. "Para você ter ideia, meu melhor amigo era um argentino [Daniel Passarela]. Ainda bem que ele era gente boa". Quando rompeu o contrato com a equipe de Florença, deixou de receber algo em torno de um milhão e meio de dólares. "Eu não queria o dinheiro. Queria felicidade". Língua afiada e um calcanhar único. Preciso. Desafeto público de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Sócrates não se importa de comprar brigas com adversários fortes e implacáveis. "Dentro de campo, lembro que evitava o contato porque não tinha vantagens físicas. Fora dele, porém, eu compro, e vou comprar sempre, todas as brigas que julgo importantes para o meu país. Os principais gols de minha vida nada têm a ver com o futebol".

Eu percebo que você evita falar sobre futebol.

Não é que eu evito. É que o futebol, para mim, antes de tudo, tem um contexto social. Se você falar assim, 'ah, o cara chutou a bola, cruzou a bola'… Isso não é nada para mim. É mais ou menos como caminhar. O verbo caminhar não vale nada. Agora, se você caminhar do Palácio do Planalto até o Congresso Nacional para levar uma medida provisória que mude o país, aí é diferente. O conteúdo tem de ser diferente.

Então, diante disso, a Democracia Corinthiana foi mais importante do que fazer parte do inesquecível time de 82?


Sem dúvida. Nem se compara. Aquele time [da Copa de 82] era muito legal. Mas era uma coisa futebolística. E só. Tínhamos os melhores caras da época, tínhamos a melhor seleção. E eu era o capitão. Ou seja, uma bela de uma homenagem e também uma grande responsabilidade. Mas era futebol. Só futebol. Apesar de a linguagem futebolística ser aquela que une nosso país, nós precisamos de muito mais. Precisamos de educação, de conhecimento, de informação. E, de repente, você conseguir provocar, por meio dessa linguagem, algum tipo de mudança, isso é do caralho.

E como funcionava a Democracia Corinthiana?


Na verdade, de tudo que eu li na vida, de tudo que vivi, não há nada parecido com a Democracia Corinthiana. Vamos imaginar que você tenha se casado com uma mulher, tenha filhos, tenha uma funcionária. E que todos decidam, por exemplo, a que horas almoçar. Todos! Não apenas você. E que o voto da sua funcionária tenha o mesmo peso que o seu. Isso é democrático. O resto é figuração. O voto do nosso roupeiro tinha o mesmo peso que o dos diretores de futebol do Corinthians.

Como foi a repressão ao movimento? Vivíamos o governo Figueiredo, que era um militar.

Na realidade, não houve repressão. Houve reação. Reação ideológica. E era até ótimo. Quanto mais discussão houver, mais você cresce. Vai melhorando o seu sistema com o olhar externo. Burro daquele que se acha sábio. Em qualquer coisa que se faça na vida, mais você reflete sobre aquilo que você é, que você faz. E então melhora aquilo que está pretendendo fazer. Se for unânime, é uma porcaria. Nelson Rodrigues disse que toda unanimidade é burra. E é verdade. Porque você fica burro. Nós estamos num meio, falando em futebol, popular. Ninguém mexe com isso. É a maior força. Não é um indivíduo. É uma multidão que está atrás de você.

Quais os legados da Democracia Corinthiana?

Vou citar um só. Temos um presidente metalúrgico.

Como a mídia jornalística reagiu à Democracia?

Em qualquer proposta ou filosofia diferenciada, você cria adesões e cria defecções. Aliás, é muito pertinente defecções. Lembra merda. Boa lembrança! Não só para um lado. Para o outro também. Seres humanos são criados para criar. Triste do homem que não cria. Que não cria diferenças, não cria novidades, que não discute nem provoca reflexões. Infelizmente, todo processo humanístico da metade do século passado até hoje é para que o homem vire uma rês. Seja vaca, seja boi ou seja touro. Uma rês. Infelizmente. E toda discussão que tivemos dentro do processo corinthiano era que, ali dentro, cada ser humano fosse respeitado como tal, como indivíduo. Que tivesse suas responsabilidades. Que fosse tratado como cidadão. Porque o jogador de futebol, o roupeiro menos ainda, o massagista também menos ainda, são tratados como meros coadjuvantes num processo que deveria ser humano e não é. É econômico, financeiro, político. É manipulado de todas as formas. A crise econômica que a gente passa hoje, por exemplo, é uma quebra dos tabus da virtualidade em que a economia foi apoiada. Cadê o humano? Cadê o trabalho? Cadê a profissão? Karl Marx, há quase 200 anos, escreveu basicamente isso que está acontecendo agora. Se você reler O Capital hoje, vai dizer: “pô, isso é uma mentira, o que vale é o ser humano, é o homem, é o produtor, é o cara que tá lá com a mão na massa, não é essa porcaria de bolsa de valores”. Isso é tudo virtual. Uma hora explode mesmo. E o pior é que o ser humano não aprende.

Naquele time, todo mundo aderiu? Como era sua relação com o Leão, por exemplo?

Uma merda. O Leão não é um ser humano. Estamos falando de seres humanos. O Leão, na verdade, é uma distorção da geração que Deus imaginou. Mas eu não tenho nada contra ele. As pessoas são o que são. Agora, ele é uma figura que carrega dentro de si alguns grandes defeitos humanos. Todos nós temos defeitos, ele tem múltiplos. Mas não é uma culpa dele, não. Ele nasceu com isso. Não é algo que foi emprestado pela sociedade. Está na genética.

Isso contradiz sua análise marxista.

Não quero mais falar sobre o Leão.

E sua relação com o resto da equipe? Todo mundo aderiu? Eram pessoas que discutiam também?

Aquilo só funcionou porque, de alguma maneira, iniciou-se uma convulsão. Juntaram-se várias pessoas no mesmo ambiente, na mesma época. Foi um acidente. Revoluções não acontecem na hora em que você quer. Che e Fidel não se juntaram por acaso. Alguém colocou os dois juntos. E com mais 14 ou 15 pessoas, eles fizeram aquela porcaria funcionar e a realidade social de Cuba ficou a coisa mais linda do mundo. Um monte de gente se juntou em determinado momento e criou-se a condição para que se tivesse uma revolução. As pessoas, no começo, tinham muito medo. Mas tinham alma. Isso era o mais importante. Tinham medo porque nunca foram estimuladas a participar de nada, a ter voz ativa e, de alguma forma, a participar das decisões. Todo mundo tem medo disso. Até hoje. Qualquer sociedade é assim, qualquer empresa. Tem um dono que impede as pessoas de tomarem suas decisões antes de imaginar quais sejam. Ali, não. Ali era do caralho. As pessoas foram estimuladas o tempo todo a ter autonomia. Por isso que ninguém daquela turma está mal. Todo mundo virou gente, virou cidadão, conseguiu se entender como ser humano dentro de um processo social.

A mídia participou? O Juca Kfouri participava? Quais jornalistas eram mais próximos?

Existiam dois grupos. Um, que era de esquerda, liderado pelo JB [Jornal do Brasil] e Folha, que apoiava. O Juca era um dos jornalistas que apoiava. Do outro lado havia Estadão e O Globo. É natural. Mas todos eles, de algum modo, foram importantes no processo. O debate era fundamental. Nós chegamos a um ponto, num país que estava há quase 20 anos sem votar para presidente… Foi demais. A primeira campanha do Lula, em 1982, nós bancamos dentro do Corinthians. Fizemos um jogo de manhã, um churrasco à tarde e um show à noite. Reunimos toda a galera para gerar recursos. É por isso que eu falo: se temos um metalúrgico na presidência é culpa nossa também.

Que avaliação você faz do governo dele?

Eu adoro fazer analogia. Namorar uma mulher e ela gozar cinco vezes é pouco. Governo Lula é isso. Mas é muito melhor do que não gozar.

Magrão, fale sobre o Cauim, que é um projeto de cunho social.

O Cauim é um sonho. Eu sou novato no Cauim. Primeiro, descobri o Kaxassa [Fernando, fundador do Cauim]. Um cara que eu pus o nome de Kaxassa com “k”, “x” e dois “esses”. Ele foi o genitor do cinema, que não tem bilheteria, com propostas educativas para um público que nunca teve acesso. Tem gente, meu amigo, que não tem como pagar R$ 50,00 para ir ao cinema, assim como não tem para ir ao teatro, a um show de R$ 200,00. Se eu fosse dono desta merda [provavelmente alguma área pública], e eu não sou e não vou ser nunca, eu ofereceria um espaço público para o Chico Buarque vir cantar. Quem tem condições, paga R$ 150,00. Mas ele tem obrigação, e ele toparia, de fazer um show para o povão, de graça. Porque o espaço é público. Todo mundo paga. Uns pagam mais, outros pagam menos, porque existem as castas. No meu sonho, todos têm as mesmas oportunidades. Mas não temos porque esta merda é voltada para a exploração do homem pelo homem. Lembrei agora da Revolução dos Bichos, de George Orwell. Qualquer criança tinha que aprender a ler com aquilo.

Vou voltar um pouco para o futebol. Quem foi o cara no Corinthians: Rivelino, Sócrates, Neto ou Marcelinho Carioca?

Cláudio [Cristóvão do Pinho, campeão paulista pelo Corinthians em 1954]. Tem uma história ótima dele. Eu só estive uma vez com o Cláudio, ele já tinha 60 e tantos anos. Foi num jogo, numa festa que fizeram no Pacaembu. Corinthians inglês, um time amador, contra os antigos jogadores do Corinthians brasileiro. Na hora que terminou o jogo, o Cláudio conversou com o Juca: “agora eu descobri por que o Magrão foi campeão pelo Corinthians. Porque ele joga com a gente”. Foi a maior homenagem que eu recebi na minha vida.

E a relação com a Fiel, já que você tem uma vocação popular e a torcida traduz muito isso? Tinha conversa, diálogo?

Outro dia me perguntaram a mesma coisa. Não sei se eu tinha vocação popular. Quem me fez ser o que eu sou foi a Fiel, que é a cara do Brasil, a cara do brasileiro. Eu sou o que sou por causa da Fiel. Eles me fizeram assim. Eu sou um cargo de mandato sem mandato. Pô, cara!, vou brigar com este povo que me deu tanta coisa, me ensinou e ensina tanta coisa?

Magrão: qual foi o jogo e qual o gol da sua vida?

O maior jogo da minha vida está para acontecer ainda. Agora, em cima da sua pergunta, a emoção maior que eu tive na vida até hoje, como profissional de futebol, foi ouvir o Hino Nacional brasileiro, em Sevilha, no primeiro jogo da Copa do Mundo de 82, como capitão, representante da geração. Uma coisa é ter um filho. E eu sei, sou apaixonado por eles todos. Outra coisa é você ter milhões de filhos naquele momento.

Sua consciência também foi levada para o grupo da seleção?

Nós tínhamos um grupo em que todo mundo era ídolo nos seus clubes. Naquela época, quem era o melhor jogador do Brasil? Na verdade, existiam quatro grandes jogadores: um gaúcho, o Falcão, que jogava em Roma; o Zico, no Rio; eu, em São Paulo; e o Cerezo, em Minas. Se você deixa a rivalidade correr nos bastidores, não consegue formar uma equipe. Porque vira competição. A gente saía e dizia em público: o melhor jogador do Brasil é o Zico. E era mesmo.

Melhor do que o Falcão?

Tá de sacanagem, cara?!!! Era melhor do que todo mundo, porra! Melhor do que eu. O Zico era foda. O Zico decidia, velho. E, sendo o melhor, ele era o rei. Quando há um rei, o resto briga para chegar perto do rei. Quando não há rei, todo mundo se mata. Vira tudo súdito. Em qualquer sociedade é assim. Você briga para chegar até ele. Se deixar sem líder, ninguém faz nada. Não é uma visão minha, é uma visão filosófica da sociedade. Não é minha, é maquiavélica. O Príncipe dizia isso. Eu só usei.

Muitos dos de 82 estiveram em 86, que foi um grande time e também chegou perto.

Desculpe, mas não existe essa comparação. É aquela coisa: você conquista a mulher da sua vida. Em 82 era isso. Em 86 podia até ser uma mulher muito mais gostosa e bonita. Para os outros, não para você. Não era a mulher da sua vida.

Quando o Raí ganha a Copa em 1994, houve uma sensação de complemento?

O Raí é muito diferente de mim. Ele é tímido pra caramba. Eu também sou, mas ele é o tímido que não briga. Ele é articulador, mas não briga. Ele é mais polido, eu sou mais agressivo. Em 1994, eu jamais sairia do time. Eu falo para ele: “porra, Raí, caralho, capitão do time não sai. Briga. Põe a merda pra correr”. Eu jamais sairia. Até porque era injusto. Se viesse jogando mal, tudo bem. Mas ele não merecia sair. Ele era o capitão. E um capitão sair durante a Copa do Mundo, eu não lembro de nenhum. Agora, tem coisa mais linda? Ele aceitou, ficou no banco, tudo pelo coletivo. E foi campeão. Eu não aceitaria. No mínimo, no mínimo, eu pegaria um voo de volta. Se você é o capitão da seleção, você é o representante mor daquela porra. Representante do time e da nação. Isso não muda em uma semana. É uma conquista que tem uma história. E ninguém pode pisar na sua história. Pisaram na história dele. Se fosse um jogador comum… Não, ele era o capitão. Sacanearam o Raí.

O que eu quis dizer foi o seguinte: o Raí foi campeão mundial com o São Paulo em 1992 e, logo, deu, digamos assim, um título mundial ao Telê. Depois, foi campeão mundial com a seleção. É essa sensação de complemento a que me refiro. Foi um cala-boca nos que cobram vitória?

Sinceramente, eu não vejo assim. Em 82 existia um sonho de jogar bola bonito. O Telê preservava isso. Agora, eu não acredito em vitória. Nem em sucesso. É tudo especulação. Nós somos frágeis, somos fracos, somos carentes. Todos nós. Existem sobrevidas. Mas a maior parte da vida é de carência, sofrimento, dor, de ir buscar um monte de coisa que a gente não conquistou. E conquistar não quer dizer ganhar, não quer dizer ter sucesso. Conquistar é aquilo que lhe dá prazer, que lhe faz bem, que lhe dá felicidade. Eu não acredito nesse discurso da sociedade contemporânea, tudo voltado para a Ilha de Caras. Falsidade do caralho. Mostram coisas muito bonitas, muito ricas. Se você pegar a maior parte das pessoas que tiram foto naquela revista, elas não estão em casa. Na casa delas é muito mais difícil. A vida é muito maior do que o sucesso. A vida é real, cara. A casa delas é que vale, é onde elas choram.


03/06/2009

Testamento
Manuel Bandeira


O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!

(29 de janeiro de 1943)

02/06/2009

velhice

"A velhice poderia ser a suprema solidão, não fosse a morte uma solidão ainda maior." JOSÉ LUIS BORGES


01/06/2009

meu Eu sujo

Quando a gente fala da gente só fala bem. Tô puto comigo e resolvi escrever sobre MEU EU SUJO. Aposto que você também tem um, com diferente sujeira, mas com o mesmo asco.



1. Tenho medo excessivo do fracasso;
2. Não lido bem com críticas;
3. Já magoei muito pessoas que me amavam demais;
4. Por diversas vezes, menti só pra satisfazer meu ego;
5. Tenho muita dificuldade de levantar das quedas;
6. Sou volúvel;
7. Sou mulherengo;
8. Sou indeciso;
9. Fujo dos meus próprios problemas;
10. Não sou um bom filho;
11. Poderia ser um esposo melhor;
12. Tenho vontade frequente de deixar de existir;
13. Sou gordo;
14. Sou desorganizado;
15. Acho que mais atrapalho do que ajudo quem do ama;
16. Escrevo mal;
17. Me sinto perdido em relação à minha carreira;
18. Me sinto perdido em relação a que rumo dar a minha vida.