29/10/2008

para meu cumpadre e amigo Rogério



Caminhava pela rua morta.

Não estava mais perdido na cidade

Do que em si mesmo.



Deserta, escura e triste,

Era a rua que caminhava nele.



A rua oferecia-lhe as esquinas,

Os becos, os bares fechados,

Os fantasmas bizarros.



A rua mostrava-se como uma prostituta fria,

Seus pés apenas davam passagem ao asfalto,

À calçada, aos faróis,

À ladainha de um ou outro motor solitário que por vezes passava por ele.



Talvez ele sempre estivera ali

Esperando pelo amor na próxima esquina,

Pela esquina no próximo farol,

Pelo farol na eterna escuridão.



A rua passava por ele, pois estava perdida.

A rua estava perdida na cidade.

Não lhe cabiam as placas, a poeira e o tédio.

Não lhe cabia a solidão.



A rua acariciou-lhe os pés,

Antes que ele dobrasse a esquina,

E a deixasse.





EDNALDO TORRES FELICIO
(RUA AUGUSTA - SAMPA)

PEÇO DESCULPAS

Frei Betto

Estou gravemente enfermo.

Gostaria de manifestar publicamente minhas escusas a todos que confiaram cegamente em mim. Acreditaram em meu suposto poder de multiplicar fortunas. Depositaram em minhas mãos o fruto de anos de trabalho, as economias familiares, o capital de seus empreendimentos.Peço desculpas a quem assiste às suas economias evaporarem pelas chaminés virtuais das Bolsas de Valores, bem como àqueles que se encontram asfixiados pela inadimplência, os juros altos, a escassez de crédito, a proximidade da recessão.

Sei que nas últimas décadas extrapolei meus próprios limites. Arvorei-me em rei Midas, criei em torno de mim uma legião de devotos, como se eu tivesse poderes divinos. Meus apóstolos - os economistas neoliberais - saíram pelo mundo a apregoar que a saúde financeira dos países estaria tanto melhor quanto mais eles se ajoelhassem a meus pés. Fiz governos e opinião pública acreditarem que o meu êxito seria proporcional à minha liberdade. Desatei-me das amarras da produção e do Estado, das leis e da moralidade.

Reduzi todos os valores ao cassino global das Bolsas, transformei o crédito em produto de consumo, convenci parcela significativa da humanidade de que eu seria capaz de operar o milagre de fazer brotar dinheiro do próprio dinheiro, sem o lastro de bens e serviços.Abracei a fé de que, frente às turbulências, eu seria capaz de me auto-regular, como ocorria à natureza antes de ter seu equilíbrio afetado pela ação predatória da chamada civilização.

Tornei-me onipotente, supus-me onisciente, impus-me ao planeta como onipresente. Globalizei-me. Passei a jamais fechar os olhos. Se a Bolsa de Tóquio silenciava à noite, lá estava eu eufórico na de São Paulo; se a de Nova York encerrava em baixa, eu me recompensava com a alta de Londres. Meu pregão em Wall Street fez de sua abertura uma liturgia televisionada para todo o orbe terrestre. Transformei-me na cornucópia de cuja boca muitos acreditavam que haveria sempre de jorrar riqueza fácil, imediata, abundante. Peço desculpas por ter enganado a tantos em tão pouco tempo; em especial aos economistas que muito se esforçaram para tentar imunizar-me das influências do Estado. Sei que, agora, suas teorias derretem como suas ações, e que o estado de depressão em que vivem se compara ao dos bancos e das grandes empresas.Peço desculpas por induzir multidões a acolher, como santificadas, as palavras de meu sumo pontífice Alan Greenspan, que ocupou a sé financeira durante dezenove anos.

Admito ter ele incorrido no pecado mortal de manter os juros baixos, inferiores ao índice da inflação, por longo período.

Assim, estimulou milhões de usamericanos à busca de realizarem o sonho da casa própria. Obtiveram créditos, compraram imóveis e, devido ao aumento da demanda, elevei os preços e pressionei a inflação.

Para contê-la, o governo subiu os juros… e a inadimplência se multiplicou como uma peste, minando a suposta solidez do sistema bancário.Sofri um colapso. Os paradigmas que me sustentavam foram engolidos pela imprevisibilidade do buraco negro da falta de crédito. A fonte secou.

Com as sandálias da humildade nos pés, rogo ao Estado que me proteja de uma morte vergonhosa. Não posso suportar a idéia de que eu, e não uma revolução de esquerda, sou o único responsável pela progressiva estatização do sistema financeiro.

Não posso imaginar-me tutelado pelos governos, como nos países socialistas. Logo agora que os Bancos Centrais, uma instituição pública, ganhavam autonomia em relação aos governos que os criaram e tomavam assento na ceia de meus cardeais, o que vejo? Desmorona toda a cantilena de que fora de mim não há salvação.

Peço desculpas antecipadas pela quebradeira que se desencadeará neste mundo globalizado. Adeus ao crédito consignado!

Os juros subirão na proporção da insegurança generalizada. Fechadas as torneiras do crédito, o consumidor se armará de cautelas e as empresas padecerão a sede de capital; obrigadas a reduzir a produção, farão o mesmo com o número de trabalhadores.

Países exportadores, como o Brasil, verão menos clientes do outro lado do balcão; portanto, trarão menos dinheiro para dentro de seu caixa e terão que repensar suas políticas econômicas.Peço desculpas aos contribuintes dos países ricos que vêem seus impostos servirem de bóia de salvamento de bancos e financeiras, fortuna que deveria ser aplicada em direitos sociais, preservação ambiental e cultura.

Eu, o mercado, peço desculpas por haver cometido tantos pecados e, agora, transferir a vocês o ônus da penitência.

Sei que sou cínico, perverso, ganancioso. Só me resta suplicar para que o Estado tenha piedade de mim.

Não ouso pedir perdão a Deus, cujo lugar almejei ocupar. Suponho que, a esta hora, Ele me olha lá de cima com aquele mesmo sorriso irônico com que presenciou a derrocada da torre de Babel.

26/10/2008

EU VOLTEI, AGORA PRA FICAR

Hoje, eu estava no Pacaembu com minha família.

E meu time ganhou.

E meu time voltou para a divisão da qual ele nunca deveria ter saído.

E eu fiquei muito, muito feliz.

GRande festa, grande dia.

GRANDE CORINTHIANS.


21/10/2008

tirado do Blog do Azenha

100 HORAS DE INCOMPETÊNCIA

Atualizado e Publicado em 18 de outubro de 2008 às 15:31

por EDUARDO GUIMARÃES



Na tarde desta sexta-feira, a polícia invadiu o apartamento onde Lindemberg Fernandes Alves, de 22 anos, mantinha duas reféns havia mais de 100 horas, em Santo André, no ABC paulista. Foi jogada uma bomba pela polícia e ouviram-se muitos tiros.



A ex-namorada de Lindemberg, Eloá, e sua amiga, ambas de 15 anos, saíram de maca e “gravemente feridas”, segundo a tevê Globo. O seqüestrador saiu ileso, caminhando.



Na quinta-feira, Naiara, amiga de Eloá, voltou ao cativeiro, com autorização da polícia, depois de ter sido libertada dois dias antes pelo seqüestrador. A desculpa da polícia é a de que a família de Naiara teria “autorizado” a menina a voltar ao cativeiro.



O Conselho Tutelar paulista questionou a polícia paulista por permitir a volta de Naiara ao cativeiro, dizendo que nem a família dela poderia ter dado qualquer autorização, pois a decisão seria exclusiva das autoridades e não poderia ter sido essa.



Nunca, em minha vida, ouvi falar que a polícia tivesse devolvido uma vítima a um seqüestrador, ainda mais sendo a vítima menor de idade. O desfecho trágico dessa tragédia revela uma estratégia absurda da polícia, uma incompetência total.



Ao menos a amiga de Eloá poderia ter sido poupada da violência.



O apresentador do SP TV, Carlos Tramontina, que transmitiu os primeiros dados da ação desastrada, não fez absolutamente nenhum questionamento à polícia. Eloá levou dois tiros. Sua amiga, Nayara, levou um tiro na face.



Pouco depois das 19 horas, o mesmo Tramontina divulgou que a assessoria do governo José Serra disse que Eloá não resistiu aos ferimentos e faleceu. Minutos depois, o mesmo Tramontina desmentiu a informação e deu justificativas para a ação da polícia.



Momentos depois, a morte de Eloá foi confirmada pelo portal UOL, mas a Globo ainda desmentia a informação. Em seguida, o UOL passou a difundir o desmentido do governo paulista.



Apesar da dor, o momento é de responsabilizar criminalmente todos os envolvidos nessa operação policial estúpida, independentemente de o desfecho de tudo isso ser mais ou menos trágico, pois o seqüestrador não é mais culpado que a polícia.



Já no Jornal Nacional, depois das 20 horas, Fátima Bernardes manteve o tom acrítico e um oficial da PM atribuiu a culpa pela volta da garota Naiara ao cativeiro a ela própria, que teria chegado perto demais da porta do apartamento.



A polícia permitiu, autorizou, facilitou a aproximação da garota do cativeiro. E a culpa é de uma menina de 15 anos. Para a Globo e para a polícia de Serra.

19/10/2008

ELOÁ

Todo mundo faz cagadas quando tem 21, 22 anos.

Eu, com 20 anos engravidei minha namorada.

O Linderberg, com 22 matou a ex dele.

Tudo uma merda.


Culpado?

Quem votou contra o desarmamento, quem consome produtos como o programa da Sonia Abrão, quem votou no Serra...

Todos temos um pouco do sangue dela nas mãos. Ela não teve escola, não teve projeto de futuro, não teve nada.

O imbecil do ex namorado achava que a vida é com um video game, ou um filme de cinema.

Com a idade dele, quase fiz o aborto de minha filha com minha ex, ele matou a ex dele.

Tem um pouco de mim nele.

Tudo uma merda.

Dias tristes.

10/10/2008

A VOZ

I.

Num sotão, assim chamado Velho
Num cérebro, assim chamado Louco
A Voz, assim chamada Bela
Repousa entre cacos e escombros.

Num verso, assim chamado Saudade
Numa caneta, assim chamada Tecla
Num papel, assim chamado Blog
O grito da Voz vira Poesia.

II.

(A Voz não sou eu.
A Voz está em mim.

A Voz me pede o gozo
e me condena pelo abandono

A Voz que tudo teve
E nada reteve

A Voz que foi energia
E hoje é solidão

A Voz está em mim
alojada
. viva
pulsante
. calada, mas não quieta

A Voz que me pediu um orgasmo
E me deu uma vida

A Voz não sou eu.
Mas está em mim.)

III.

(Na calada da noite,
A Voz Calada vem do fundo da minha mente
com seu grunhido bestial
Acusando-me
"Poeta, tiraste-me o som
Poeta, tiraste-me as cordas
Mas Poeta, não tiraste-me a Vida
E eu o amaldiçoo a nunca mais esquecer
O som do meu êxtase,
que foi seu
e de tantos outros depois de ti.
Escuta meu som animal, poeta
Escuta meu esforço de gritar
- Uma voz que tu tiraste -
Escuta meus lamentos
Escuta minhas pragas
Escuta minha saudade.
Viverei sempre em ti,
calada, a despertar-te
no frio, no chão, no medo.
Medo de mim
e do que fizeste comigo.
Ouve Poeta,
meu som gutural
de ódio, de paixão e escárnio.
Ouve Poeta, minha maldição final:
Viverei sempre em ti
Mas em mim não viverás
jamais!"

E apenas na última sombra da madrugada, se vai Voz, de mãos dadas com a Morte.)



EDNALDO TORRES FELICIO
10/10/08

06/10/2008

UM PASSO ACIMA

Amanhã darei um grande passo.

Estou com medo, mas acima de tudo estou ancioso.

Caminhar é preciso, viver não é preciso, que me perdoe Pessoa.

acima.
É mais uma passo. Só um passo. Mas é um passo

01/10/2008

HOMENAGEM PRA CINTIA (MEU AMOR)

E não é que faz 8 anos que moramos juntos??????


E como homenagem A VOCÊ, posto a canção de nossa primeira ópera no Municipal.


Te amo e te amo cada dia mais