10/10/2008

A VOZ

I.

Num sotão, assim chamado Velho
Num cérebro, assim chamado Louco
A Voz, assim chamada Bela
Repousa entre cacos e escombros.

Num verso, assim chamado Saudade
Numa caneta, assim chamada Tecla
Num papel, assim chamado Blog
O grito da Voz vira Poesia.

II.

(A Voz não sou eu.
A Voz está em mim.

A Voz me pede o gozo
e me condena pelo abandono

A Voz que tudo teve
E nada reteve

A Voz que foi energia
E hoje é solidão

A Voz está em mim
alojada
. viva
pulsante
. calada, mas não quieta

A Voz que me pediu um orgasmo
E me deu uma vida

A Voz não sou eu.
Mas está em mim.)

III.

(Na calada da noite,
A Voz Calada vem do fundo da minha mente
com seu grunhido bestial
Acusando-me
"Poeta, tiraste-me o som
Poeta, tiraste-me as cordas
Mas Poeta, não tiraste-me a Vida
E eu o amaldiçoo a nunca mais esquecer
O som do meu êxtase,
que foi seu
e de tantos outros depois de ti.
Escuta meu som animal, poeta
Escuta meu esforço de gritar
- Uma voz que tu tiraste -
Escuta meus lamentos
Escuta minhas pragas
Escuta minha saudade.
Viverei sempre em ti,
calada, a despertar-te
no frio, no chão, no medo.
Medo de mim
e do que fizeste comigo.
Ouve Poeta,
meu som gutural
de ódio, de paixão e escárnio.
Ouve Poeta, minha maldição final:
Viverei sempre em ti
Mas em mim não viverás
jamais!"

E apenas na última sombra da madrugada, se vai Voz, de mãos dadas com a Morte.)



EDNALDO TORRES FELICIO
10/10/08

Um comentário:

Talitha Borges disse...

Lindo Ed...
Do fundo da alma.