29/10/2008

para meu cumpadre e amigo Rogério



Caminhava pela rua morta.

Não estava mais perdido na cidade

Do que em si mesmo.



Deserta, escura e triste,

Era a rua que caminhava nele.



A rua oferecia-lhe as esquinas,

Os becos, os bares fechados,

Os fantasmas bizarros.



A rua mostrava-se como uma prostituta fria,

Seus pés apenas davam passagem ao asfalto,

À calçada, aos faróis,

À ladainha de um ou outro motor solitário que por vezes passava por ele.



Talvez ele sempre estivera ali

Esperando pelo amor na próxima esquina,

Pela esquina no próximo farol,

Pelo farol na eterna escuridão.



A rua passava por ele, pois estava perdida.

A rua estava perdida na cidade.

Não lhe cabiam as placas, a poeira e o tédio.

Não lhe cabia a solidão.



A rua acariciou-lhe os pés,

Antes que ele dobrasse a esquina,

E a deixasse.





EDNALDO TORRES FELICIO
(RUA AUGUSTA - SAMPA)

2 comentários:

Bruno Marcelo disse...

Muito bom seu blog cara, ideia original mesmo!

Anônimo disse...

Fala Cumpadi!!

Beleza?

Obrigado pelo grandioso presente de aniversário com 2 meses de antecedência! hahahaha

Ser ligado à Rua Augusta através de uma poesia tão bela e urbana é um privilégio de poucos. Sinto-me um privilegiado de fato!

Parabéns pelo dom que tens!

Abrasssssssssss!