31/12/2010

feliz ano novo


Morava sozinho, vivia sozinho e como não podia ser diferente, passava o Reveillón sozinho.

A dor da solidão ficava aguda e feria-lhe o peito especialmente nos dez minutos após a meia-noite, quando os fogos gritavam pela janela e as pessoas se abraçavam pelas ruas, fazendo-o aumentar o volume do DVD.

Feliz Ano-Novo.

29/12/2010

4:42hs


4:42hs

O bebê engatinha em direção ao rabo do cachorro, que olha desconfiado.

Sentado ao computador (ou à mesa dele hehehe) penso o quanto estou agradecido ao mundo pela Vida.

Há uma paz de primavera em minha casa.

Minha esposa dorme silenciosa em posição fetal.

Devo tudo a ela. Ela deve tudo a mim.

Devemos tudo ao cachorro, ao bebê e à Vida.

Nosso ecossistema está completo.

Raul (o Bebê) veio oxigenar as plantas, fermentar o pão, espalhar amor na corrente sanguínea.

Quando ele estava na barriga da mãe, sabia que iria amá-lo, mas não imaginava que esse amor fosse uma cachoeira, um jorro, uma explosão.

Meu peito se abre e eu o acolho. O envolvo com uma energia azulada.

Tem tanto de mim nele, tanto de mãe e ele é uma pessoa completamente diferente de nós.

Como não crer em Deus ao vê-lo descobrir o mundo, desenvolver habilidades simples de um ser humano tais como: andar, segurar um objeto, falar...?

Não creio no Deus das Igrejas, mas nesse Deus de mim que faz meu peito inchar de alegria e amor. Tanto amor não sou eu, é mais do que sou, é além. É Deus.

Olhar meu filho brincando com seus quadrados coloridos é estar em comunhão com Deus.

Escrever esse texto de madrugada é uma prece. Uma prece de louvor e agradecimento. A Deus, á Vida.

Meu filho, Raul.

EDNALDO TORRES FELÍCIO
4:51hs
29/12/2010

P.S.: Como de bobo meu cachorro não tem nada, fugiu antes que o bebê alcançasse-lhe o rabo.

;-)

20/12/2010

medidas


MEDIDAS
(para meu amigo Sylvio Passos)

Tenho um sofá
que é o único a ver meu choro
quando penduro a máscara de sorriso
ao chegar das Ruas Augustas
cheirando whisky.

Ele é meu guia
em meus pesadelos
ele é meu censor, gestor, carrasco
e amigo.

Mostra meus erros
e me consola depois do jarro de lágrimas
alisa meus cabelos
e me põe pra dormir
dizendo no seu mutismo de sofá:
"shiiiii amanhã é outro dia."

Tenho um sofá
que é o único a ver meu choro,
meus medos, minhas aflições.

Tenho um sofá
que me acorda no dia seguinte

porque não é confortável.