e-mail abortad pra minha irmã

E aí? Blza?
Eu tõ por aqui na mesma. A mãe te falou que o médico queria me internar de novo? Tive uma crise braba na semana passada, quando saí pra procurar emprego.
Uma merda, chorei, tremi. Uma bosta.
Ainda sinto insegurança de mandar curriculuns, acredita? Tô com o jornal aqui na minha frente e não consigo mandar, é como se me sentisse incapaz de conseguir qualquer vaga.
Mas tá limpo, vou ficar bom em breve! O médico me deu mais um remédio pra tomar com o antidepre que to tomando hj, preciso ficar bom logo, pois vou acabar perdendo a Cintia.
Continuo fazendo terapia e se não melhorar até semana que vem, volto pro hospital.
Elaiá... Tô de saco cheio dessa falta de força pra sair da cama, pra abrir as janelas, pra sair de casa, pra viver.
Me pergunto onde foi parar aquele eu que andava pra frente, sempre. Ou eu sou o de hoje, um saco de areia jogado na cama?
É foda. Tem dia que eu sequer almoço ou me alimento, não tenho ânimo pra nada. Uma bosta, mas melhora.
Bjos.
Desculpa falar isso contigo, mas a Cintia se desespera quando desabafo com ela. Tenho sido um fardo pesado pra ela. Acho que se eu largar tudo talvez a vida dela ande pra frente, sem o peso que represento.
Tenho vergonha de ter medo de procurar trampo. Tenho vergonha quando a Cintia sai pro trabalho e eu fico em casa. Fiquei com vergonha quando o médico sugeriu me internar de novo.
Me acho fraco, derrotado.
Sei que a depressão é uma doença que tem ciclos, talvez eu esteja passando por um ciclo de baixa, talvez amanha eu acorde melhor. Mas to cansado. Como vou conseguir passar por uma entrevista se não acredito em mim? Como vou conseguir vingar num novo emprego se não tenho forças sequer pra sair da cama? Meus dias têm se passado no escuro. Com janelas fechadas. O corpo pede mais cama, mais silêncio, mais solidão.
Uma vez a Cintia falou que estou morto em vida. Talvez ela tenha razão...