
Era eu menino. Muito menino. Acabara de ser alfabetizado.
Meu mano com idade mais próxima à minha era seis anos mais velho que eu. E ele tinha um livro de português...
Nas tardes enooooormes e vazias daquela Carapicuíba de ruas de terra, eu roubava seu livro e me esforçava para ler o livro que era para um série seis anos à frente da minha...
Como era difícil ler os contos, lia as poesias do livro. Foi assim que me tornei poeta.
Uma daquelas poesias, lidas nas tardes de chuva entre o jogo de botão e os carrinhos de plástico, reencontrei agora e descobri que é do genial MÁRIO QUINTANA.
Obrigado Mário, por preencher aquelas tardes distantes com sua poesia linda.
RECORDO AINDA
Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...
Mario Quintana
PS.: Na foto, meu mano correndo sobre a laje de casa