12/06/2010

?


Sentou-se.
Diante de si havia bifurcações intermináveis.

Olhou o céu azul sem fim.
Pensou no mar e seu (falso) horizonte.

Lançou um curto olhar para trás:
seus erros e acertos marcados
com pegadas (nada/quase) frágeis.

Suspirou.

Mirou suas pernas cruzadas.
Sapatos surrados nos pés,
solas surradas na alma,
dedos sem raízes no chão.

Ouviu o vento
sopro sem vida, infinito e etéreo - indiferente -
a apagar marcas
que ficaram de onde/por onde andou.

Examinou as próprias mãos
e viu-se mais velho, mais calejado,
mais duro, menos menino.

Levantou-se.

Caminhou.

Qualquer bifurcação que escolhesse
daria sempre em lugar algum.

Lugar algum.

"Dane-se!" pensou
"não me importa a margem,
mais que a travessia.
não me importa a morte,
mais que a vida."

Dobrou à esquerda
e nunca mais
foi visto ali, igual, o mesmo.

Pior, por vezes melhor,
mas nunca
o mesmo.


EDNALDO TORRES FELICIO
12/06/2010
por volta de 01:00hs

(o vento continua seu canto...)

4 comentários:

de Dai para Isie disse...

Nossa... Parabéns pela bela poesia!

Também estava escrevendo... Mais três páginas bem trabalhadas de um dos meus romances.

Desejo muito boa sorte pra ti. Mesmos os vespertinos precisam dormir, vou tentar fazer isso agora.

Obrigada pelo comentário!
<><

Flávia disse...

Caraca Poeta, você manda bem demais, hein?
Incrível como você brinca com as palavras.
Belo texto. Intenso!
Beijo!

Rejane Cavalcanti disse...

Menino, você é um poeta pronto. Lindo poema. E obrigado pelo comentário no meu bloguinho. Parabéns pelo seu trabalho e força aí com o seu velho. Beijos

Talitha Borges disse...

Que lindo poema vivo.