Sabe aquela música da Amy Winehouse em que ela diz que tentaram interna-la numa clínica e ela disse: "não, não, não"?
Pois é, colocamos meu pai numa clínica (de repouso) e ele nem pode dizer "não não não". E se disse, ensurdecemos nossos ouvidos.
Na verdade, a Vida e o Tempo, esse casal maluco que tudo atropela, não nos deu chance de falar "não não não" e se falamos, de surdo se fizeram Tempo e Vida.
Meu velho não suportou o peso do Tempo. Lembrando Drumond, os ombros do meu pai suportaram o mundo, mas sua mente pediu licença e, em intervalos cada vez menores, foi se afastando de seu corpo e da realidade.
Tentamos enganar o tempo. Enchemos a casa de meu pai de rampas, barras, apoios... mas o Tempo, senhor da Vida, é uma locomotiva louca e sem maquinista... quem engana essa máquina desgovernada?
A doença de meu pai não tem cura. Cada vez ele se lembrará menos do recente, cada vez se ausentará mais do presente e seu corpo será um barco à deriva. Como cuidar de um barco no redemoinho se ainda somos apenas canoas?
Coloquei meu pai numa clínica. Fingi que não ouvi seus "não não não".
Ser forte é fazer o necessário, fazer o que ninguém tem coragem de fazer.
Coloquei meu pai numa clínica e mesmo que eu tenha dito "não não não", dei as costas, limpei os olhos e dirigi meu carro.
O Tempo e a Vida nem se deram conta. Eles continuam assim como nós, de uma forma ou de outra...
Feliz Dia dos Pais, meu Grande Velho Francisco.
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